Polícia
Vítima de feminicídio estava sendo ameaçada pelo ex, dizem testemunhas
"Ela disse que estava sendo perseguida e havia três meses que não estava saindo de casa", contou a amiga de Karolina
Segunda-feira, 10 Julho de 2023 - 17:30 | Marina Romualdo
Messias Cordeiro da Silva, de 25 anos, participou da primeira audiência de instrução e julgamento na segunda-feira, 10 de Julho, na 2ª Vara do Tribunal do Júri, em Campo Grande (MS). Ele é o assassino confesso de matar a ex-namorada, Karolina Silva Pereira, de 22 anos e o colega dela, Luan Roberto de Oliveira, de 24 anos, no dia 30 de Abril, no bairro Colibri, na Capital.
Durante a audiência, as mães das vítimas até amigas de trabalho onde ambos trabalhavam foram ouvidas. O pai de Luan, Paulo Roberto de Moraes relembrou o quanto o filho era um menino esforçado. "Trabalhava em um açougue e fazia curso para barbeiro e, depois começou a trabalhar como motoboy na pizzaria. Ele queria estabilizar, ter uma casa e tinha os seus ideais".
A amiga de Karolina e de Luan, Sarah Rezende relata que foi ela quem conseguiu uma vaga na estabelecimento para amiga trabalhar. "Ela estava precisando de trabalho para tirar a carteirinha para exercer a profissão de técnico de enfermagem e indiquei o local onde trabalho, que era o mesmo de Luan. Neste dia que a indiquei para o trabalho, a chamei para fazer minha maquiagem, pois, iria em uma festa".
"Em um certo momento, ela me perguntou se eu queria colocar o cílios postiços e eu disse que sim. Depois, ela me perguntou se minha companheira deixava eu colocar o cílios. E, como estranhei perguntei o motivo das perguntas. A Karol me disse que o ex-namorado dela [Messias] era tão ciumento, que não a deixava nem colocar os cílios postiços", disse a Sarah. Em seguida, ela ficou sabendo que a amiga era ameaçada pelo suspeito.
Outra funcionária da pizzaria e amiga das vítimas, Juliana Ferreira Rocha afirmou que a Karolina havia dito que estava sendo perseguida pelo autor dos disparos. "Ela ia fazer uma semana que estava trabalhando no estabelecimento na segunda-feira. Ela era muito meiga e tinha adquirido experiência. Em um certo dia em que estávamos conversando, ela se abriu comigo e me disse que estava sendo perseguida, ameaçada e havia três meses que não estava saindo de casa com medo. Eu ainda a perguntei, se ela havia feito boletim de ocorrência contra Messias, mas, ela era tão inocente, que respondeu 'mas ele nunca me bateu'.
Juliana ainda reforça que na madrugada de domingo (30) pediu para que Luan fosse levar Karolina para casa. "Estávamos fazendo um revezamento entre o Marcos [que é funcionário da pizzaria] e o Luan para levar ela para residência, pois, estava com medo. Neste dia, o Luan tentou ligar para Marcos, mas ele não atendeu as ligações e eu pedi para que ele mesmo a levasse para casa e foi quando ocorreu tudo isso", finaliza.
A mãe de Karolina, Patrícia da Silva Leite disse ao Diário Digital que quer Justiça. "Ninguém vai trazer a minha filha de volta, o sorriso dela. Que a Justiça seja feita de forma correta. Não posso mais abraçar a minha filha. Ela tinha se formado em técnica de enfermagem e ela nem conseguiu ir na formatura dela. Então, quero Justiça e ter paz"
Já a mãe de Luan, Edmar Braga de Oliveira, relatou que o momento é de indignação e de raiva. "Tenho o desejo de vingança e espero que a Justiça seja feita pelo meu filho. Está muito difícil, sinto muita falta do meu filho. Ele era meu companheiro, ele não era de sair. Ele estava trabalhando ou estava comigo em casa. Tem dias que não quero ouvir e falar com ninguém", desabafa.
Investigação – O cabo da Polícia Militar, Uilson Júnior Torres, que atendeu a ocorrência no dia dos fatos disse que encontrou as vítimas no chão. "Luan já estava em óbito e Karolina ainda estava com vida. Uma vizinha disse que ouviu "sai daqui, seu filha da p***, momentos antes dos disparos de arma de fogo. No entanto, não soube informar quais das vítimas pronunciou os xingamentos".
Além disso, o cabo informou que durante as diligências, o Messias encaminhou mensagens para a mãe de Karolina, Patrícia dizendo que havia matado ela e que era a culpa dela. Com isso, iniciamos as buscas para localizá-lo.
De acordo com a delegada da 1ª Del. Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), Analu Ferraz, que investigou o caso, o suspeito não demonstrou arrependimento durante o interrogatório. "Pedimos a prisão preventiva de Messias, mas não o localizamos na casa da mãe e nem na chácara do pai. Apenas encontramos a arma utilizada no crime escondida próxima ao chiqueiro na propriedade do genitor".
Indagado durante o depoimento, o motivo de matar a vítima, o suspeito disse que não aceitava o fim do relacionamento. "Ele tentava de uma maneira persuadir a ex-namorada a reatar o relacionamento. Testemunhas o viram em frente ao trabalho dela, ela estava sendo perseguida a meses por Messias. Então, quando viu que não conseguiria mais voltar a namorar Karolina, decidiu cometer o crime", explicou a delegada.
Ainda de acordo com a responsável pelo caso, o principal suspeito disse que havia comprado a arma de fogo alguns anos e havia 6 munições. No dia do crime, um tiro atingiu Luan Roberto e dois atingiram a Karolina. Conforme já divulgado pelo DD, o moto entregador morreu no local. Já a jovem, estava em estado grave e foi constatado morte encefálica, seguida de uma parada cardiorrespiratória.
A próxima audiência de instrução está marcada para o dia 30 de Agosto para o interrogatório do réu. De acordo com a Estatística Online da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MS), Karolina se torna a 8° vítima de feminicídio de Mato Grosso do Sul.
Relembre o crime – Messias Cordeiro da Silva foi preso depois de matar o motoboy, Luan Roberto de Oliveira, de 24 anos, e ferir a ex-namorada, Karolina Silva Pereira, de 22 anos. Ele não aceitava o fim do relacionamento.
Os dois estavam retornando do trabalho em uma motocicleta, quando foram surpreendidos pelo autor dos disparos. Karolina foi atingida no pescoço, quando Luan tentou intervir e acabou sendo atingido também. Em seguida, a jovem tenta fugir e é atingida pelas costas com um tiro na cabeça. Após o crime, Messias fugiu do local.
Já na noite de domingo (30), o suspeito se apresentou à 1ª Del. Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) acompanhado de um advogado. A delegada, Elaine Benicasa relatou que o depoimento durou cerca de uma hora. "Ele contou que mantinha um relacionamento amoroso com Karolina, por 8 meses e algumas semanas haviam terminado. A partir desse dia permaneceram trocando mensagens por aplicativo e que em um certo momento, a vítima teria passado a rejeitá-lo".
"Por algumas vezes ele foi até a residência da vítima, esperando ela chegar do trabalho. E, de acordo com ele, sempre na companhia de Luan e inclusive presenciou beijos entre os dois", afirma a delegada. Durante a madrugada de domingo, 30 de Abril, Messias decidiu tirar a vida de Karolina.
No dia do crime, o autor foi até a casa de Karolina em posse de uma arma de fogo calibre 38, estacionou a motocicleta próximo do local e esperou ela retornar do trabalho. "Ela chega na companhia de Luan. Messias presencia ambos se beijando e, segundo ele, se toma por uma raiva incontrolável e, em seguida, ele aparece e efetua os disparos de arma de fogo", informou a Elaine.
No depoimento, o suspeito ainda disse que havia adquirido a arma de fogo há cinco anos com seis munições. Porém, nunca pensou que usaria. Mas, com o término do relacionamento, começou a pensar em usar o objeto.
Após o crime, Messias fugiu e ficou escondido na chácara do seu genitor, Elio Dias Rocha da Silva, de 63 anos. No entanto, foi localizado e preso em flagrante. A arma usada no crime foi apreendida em posse do pai do suspeito. Além disso, vale destacar que o autor não apresentou nenhum sinal de arrependimento pelo assassinato.
O autor dos disparos está preso e vai responder pelos crimes de homicídio qualificado e feminicídio.
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