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Polícia

"A criança já estava morta": Vizinhos viram mãe sair com filha no colo até UPA

Conforme moradores da região, padrasto agredia a menina com frequência enquanto a mãe trabalhava

Sexta-feira, 27 Janeiro de 2023 - 09:31 | Victória de Oliveira e Thays Schneider


"A criança já estava morta": Vizinhos viram mãe sair com filha no colo até UPA
Vizinhos denunciam situação insalubre da casa - (Foto: Luciano Muta)

A residência na Vila Nasser, em Campo Grande (MS), onde a criança, de 2 anos e 7 meses, foi agredida até a morte pela mãe, de 24 anos, e pelo padrasto, de 25 anos, nesta terça-feira, 26 de janeiro, era insalubre. É o que apontam moradores da região. O casal foi preso por homicídio qualificado e estupro de vulnerável e encaminhado para a Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) Centro.

Na rua onde a criança foi espancada até a morte, vizinhos afirmam que escutaram o choro da menina. O Diário Digital conversou com duas pessoas que moram próximo ao local. Conforme relato delas, a manhã de ontem foi marcada pelo choro alto da menina. “De certo judiou bastante da menina. Acho que ela chegou até a vomitar. Ela não era filha dele, acho que por isso batia tanto”, levanta uma moradora.

"A criança já estava morta", diz vizinha
Mãe e padrasto foram presos em flagrante - (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Uma vizinha afirmou que as crianças quase não eram vistas pela região. Na tarde de ontem, conta que viu quando a mãe saiu com a menina, de 2 anos e 7 meses, para a UPA. “Nós estávamos sentadas bem aqui. Chego até a ficar arrepiada quando eu lembro. A mãe saiu desesperada e eu falei ‘essa criança está morta’, pelo jeito que vimos, estava caída nos braços da mãe”, descreve a moradora.

A menina foi dada como morta por equipe médica da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Coronel Antonino. Conforme o boletim de ocorrência, a criança chegou sem vida e em estágio inicial de rigidez cadavérica, o que pode indicar que a vítima estava morta há pelo menos quatro horas. A mãe, ao ser informada sobre o óbito, não esbouçou reação nem remorso, descreve o registro policial.

O padrasto foi preso em casa e afirmou que “já aguardava a Polícia”. Ele negou as agressões. A genitora, no entanto, afirmou que o homem batia na menina “com tapas e socos para corrigi-la”.

Brinquedos e cervejas - O casal morava há cerca de seis meses na residência da rua Sabino Jose Da Costa. Logo na entrada, é possível notar latas de cervejas misturadas com brinquedos das crianças que moram no local - além da menina morta, um menino, filho do homem, e uma bebê, filha do casal. “Isso [bagunça na casa] é sempre assim. Agora está até limpo”, descreve uma das vizinhas.

"A criança já estava morta", diz vizinha
Brinquedos espalhados pelo local - (Foto: Luciano Muta)

Uma das moradoras da região suspeita, inclusive, de que o homem vendia drogas. “A mãe saía cedo para trabalhar. Ele? Ele não, era um ‘vagabundo’. Trazia um monte de homem para dentro da casa. A gente via o que ele fazia”, relata. 

A moradora explica, ainda, que o homem costumava vender drogas pela madrugada. Durante o dia, dormia. Quando as crianças faziam barulho, ele as agredia. “Até jogava na parede”, declara. O casal possui um cachorro no local que, segundo as moradoras, fica preso e sem receber os cuidados necessários. 

"A criança já estava morta", diz vizinha
Local estava com latas de cerveja acumuladas - (Foto: Luciano Muta)

Pai denunciou as agressões - As mulheres afirmaram que levantaram a hipótese de acionar a Polícia, porém lembraram que o pai da menina havia registrado diversos boletins de ocorrência em desfavor da genitora e do padrasto pelas agressões que a filha sofria. Conforme o delegado responsável pelo caso, Pedro Henrique Pillar Cunha o pai da menina desconfiava das agressões. 

“O genitor da criança foi ouvido como testemunha do procedimento, colaborando com a Justiça. Ele disse que, em algumas outras ocasiões quando ele foi pegar a criança para ficar com ele, a menina apresentava lesões, de forma que ele mesmo havia registrado outros boletins de ocorrência pretéritos. Inclusive, ele mencionou que acionou os órgãos competentes, como Conselho Tutelar, e tomou as medidas que lhe eram cabíveis”, destaca o delegado.

"A criança já estava morta", diz vizinha
Delegado Pedro Henrique Pillar Cunha - (Foto: Luciano Muta)

Informações apontam, ainda, que a menina tinha cerca de 30 atendimentos médicos anotados na ficha clínica dela. Em uma das ocasiões, destaca Pillar, a criança deu entrada em Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com a tíbia fraturada.

*A identidade dos autores não será revelada pela reportagem para preservar as crianças envolvidas.

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