Polícia
"Ele olhava nos meus olhos e me esfaqueava", relembra mulher que sobreviveu ao ataque do ex-marido
Professora Indiamara Vendrúscolo levou oito facadas do homem que só parou quando ela se fingiu de morta
Sexta-feira, 18 Abril de 2025 - 18:06 | Redação

Em recuperação na Santa Casa de Campo Grande (MS), Indiamara Vendrúscolo, de 44 anos, agradece a Deus a cada respirar. Ela é sobrevivente de uma brutal tentativa de feminicídio praticada pelo seu ex-marido Vilmar Meza da Silva, que está sendo procurado pela polícia. O homem executou o crime por não aceitar a separação.
A data dos fatos, 14 de Abril, era uma segunda-feira comum na vida da professora e mãe de um garotinho de 9 anos. Indiamara Vendrúscolo estava às voltas com as atividades de rotina, o trabalho e os cuidados com menino, quando o ex-marido chegou a sua residência no Jardim Gramado, em São Gabriel do Oeste (MS), por volta das 11h40.
Indiamara o recebeu com naturalidade, sem saber que ele queria começar uma briga. "Eu não pensei que ele tivesse alguma intenção. Porém, em dado momento percebi que o olhar dele tinha algo de anormal", relembra.
Quando a professora pegava a mochila do filho, ele se colocou na frente dela e tentou iniciar uma discussão. “Fala aí você não é a boazona? Fala pra mim?” Assustada, Indiamara pedia que ele se acalmasse e que a deixasse em paz, pois precisava ir trabalhar.
No meio de tanta exaltação, a voz do homem foi interrompida por um apelo do menino. "Vamos mamãe?!", disse o garoto querendo ir para a aula. Porém, Vilmar mandou que o menino saísse: "vai pra lá."

Na sequencia, praticou o ato bárbaro. "Ele levantou a blusa e puxou a faca. Ele é canhoto, o que foi um livramento, porque só esfaqueou o lado direito, do contrário poderia ter acertado meu coração (...) Ele olhava nos meus olhos e me esfaqueava. Não olhava para onde ele acertava, olhava nos meus olhos. Eu rezava. 'Deus não me deixe morrer'. Só veio na minha cabeça, se finja de morta e eu me fiz de morta. Aí percebi que ele se levantou. Quando ele se afastou, abri os olhos e o vi saindo. Levantei e coloquei a mão nos cortes. Era muito sangue, muito sangue. Ainda o vi jogando a faca", relembra.
Com agressor fora de cena, Indiamara agora uniu as forças que lhe restaram para lutar por sua vida. Conseguiu chegar a uma vizinha que chamou o Samu. Como não podia esperar pela chegada de uma ambulância, optou por algo arriscado, entrou no carro e dirigiu até o hospital de São Gabriel D´Oeste.
O caminho até lá foi uma saga de desespero. Ela ultrapassava os carros e buzinava muito. Várias vezes mostrou as mãos cheias de sangue para os motoristas ao lado e rezava, rezava sem parar.
"Quando cheguei ao hospital e me socorreram rapidamente. Em segundos, eu estava em uma maca, com vários médicos me acompanhando", relata. Após os primeiros socorros, ela se deu conta do saldo do ataque, foram oito facadas, sendo cinco na região do tórax e o abdômen e três nas pernas. Estabilizada, a paciente foi transferida para a Santa Casa de Campo Grande onde passou por cirurgias que pararam as hemorragias.

Indiamara segue na Santa Casa onde está se recuperando bem. Nesta Sexta-feira Santa, 18 de Abril, ela falou sobre o crime do qual foi vítima. A mulher demonstra um coração agradecido, mas está muito preocupada e com medo de um novo ataque do ex-marido. "É um sentimento de incerteza porque eu posso ter alta e aí eu vou para onde? Não sei como está a cabeça dele. Ele pode pensar "não terminei o que eu fui fazer." Eu tenho medo", confessa.
Após a fuga, Vilmar Meza da Silva não fez qualquer aceno para a polícia sobre a possibilidade de se entregar. Porém, tomou atitudes que, para alguns, são uma provocação. Ele estaria enviando mensagens para familiares da vítima.
"Ele mandou mensagens para a minha família pedindo desculpas, mas não acredito nas desculpas dele. Ele só está pedindo desculpas porque não concretizou o que foi fazer", opina a mulher.
Quando sair do hospital, Indiamara vai direto às autoridades. "Ele tem que ser preso", cobra. Depois, planeja abraçar bem forte seus familiares e o filho, de quem ela não esquece um instante.

Flores e café da manhã na cama - Até o desfecho brutal daquele 14 de Abril, Indiamara já tinha uma longa história de abusos psicológicos praticados pelo homem que tentou tirar a vida dela. Como já foi dito, ele queria reatar o casamento encerrado, mas a mulher tinha medo de um novo envolvimento com Vilmar.
Conforme Indiamara, o casamento de quatro anos terminou sem brigas ou discussões. Os dois tiveram uma conversa civilizada. “Eu falei que eu não queria mais, que eu me sentia sufocada quando ele mandava mensagens por exemplo. Ele entendeu. Falou que me deixaria em paz, eu poderia seguir minha vida.”
Porém, pouco tempo depois, ele voltou a enviar mensagens dizendo que ainda a amava e pedindo uma chance, ao que Indiamara reiterava suas negativas. "Eu explicava para ele: 'não é que não te ame, mas não consigo te olhar e não ver toda a violência que você me fez.' Ele disse que iria mudar, ele tentava mas não conseguia. Eu não queria mais", recorda.
Indiamara se sentia incomodada pelo temperamento controlador dele que frequentemente a ofendia, acusando-a de traição. Inclusive, para Vilmar, a ex-mulher não queria reatar porque estaria com outro. "Eles não conseguem entender que a gente não tem outros homens, apenas quer paz."
Vilmar tinha uma ideia fixa com a ex-companheira. "Ele via outras mulheres de cabelos louros nas ruas e achava que eu. Me enviava mensagens, 'eu estou te vendo aqui em tal lugar, de tal jeito'. Mas, eu sequer estava em São Gabriel e ele me via nos lugares. Estava paranoico."

Indiamara já tinha dado chances ao ex no passado e acredita que esse foi o seu erro. "Eu errei lá atrás quando me permiti acreditar que ele iria mudar. Minha razão dizia ele não vai mudar. Meu coração dizia, mas você nunca tentou."
O ex-marido causou uma ótima impressão no começo do relacionamento. "Era um homem de trazer flores e café da manhã na cama. Ele conseguia me enredar (...) Ele me ajudou muito financeiramente. Quando fui ver os defeitos, eu já estava apaixonada."
Ela se convenceu que precisava se separar após anos tolerando as ofensas calada e sozinha. Indiamara se viu chegar no limite quando o companheiro começou a insistir na ideia de que ela tinha outros homens. "Ele falava que tinha me visto dentro de um carro com um macho. Eu nem ao menos estava na cidade."
"Um dia eu disse a ele, você é um homem excelente. A parte boa é excelente, mas sua parte ruim é extraordinária. Ele consegue derrubar psicologicamente qualquer pessoa. Ele não deixa trabalhar, enviando mensagens com insinuações. Tudo o que eu fazia era porque estava atrás de homem", detalha.

Hoje, tendo sobrevivido a uma experiência tão brutal e marcante, Indiamara avalia que a mulher agredida precisa se apegar a Deus, pedir um livramento e se amar primeiro. "Eles (homens) podem nos amar, mas nós devemos nos amar primeiro. Não deixa ele te ofender nós não merecemos isso", aconselha.
Vilmar Meza da Silva já tem ficha criminal, com passagens desde que era adolescente, por atos infracionais. Ele tem passagens nas varas Criminais e da Infância e Juventude de diversos municípios de Mato Grosso do Sul. Em São Gabriel do Oeste acumula passagens por violência doméstica e, inclusive, já teve de cumprir medida protetiva.
Feminicídios - Mato Grosso do Sul já contabiliza o infeliz somatório de oito mulheres mortas, vítimas de feminicídio, somente neste ano de 2025. A última vítima é Ivone Barbosa da Costa Nantes. Ela foi assassinada na noite desta quinta-feira, dia 17 de Abril, com uma facada na cabeça quando estava na casa da comadre, no Assentamento Nazaré, em Sidrolândia (MS). O autor do crime é o namorado da vítima, identificado como Bill, que está foragido.

Canais de denúncias - Em MS, mulheres em situação de violência ou mesmo testemunhas de agressões podem denuncias os fatos aos seguintes canais:
- Disque 180 – Central de Atendimento à Mulher (Plataforma Mulher Segura)
- Caso você seja vítima de violência doméstica ligue 190 (Polícia Militar) e denuncie.
- Promuse atende pelo número (67) 99180-0542 (inclusive pela plataforma WhatsApp), ou nos canais do interior do Estado.
- 1ª DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher)
Rua Brasília, s/n, Jardim Imá (Casa da Mulher Brasileira)
Telefone: (67) 4042-1324 / 1319
- No CEAM os telefones para informações e agendamentos são 0800-067-1236 ou (67) 3361-7519.
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