Polícia
Disputa pelo tráfico assusta moradores do Tijuca e “Lei do Silêncio” predomina
Em janeiro e março foram três assassinatos na mesma área do bairro “dominada pelo tráfico de drogas”
Sexta-feira, 02 Abril de 2021 - 07:00 | Redação
Henrique Lourenço da Silva, de 22 anos, Wagner Rocha Carneiro, 37 anos, e Luiz Felipe da Silva, 22 anos. As vítimas foram executadas a tiros no Bairro Tijuca II, em Campo Grande, nos três primeiros meses deste ano. Entre elas, um ponto em comum, segundo as investigações da polícia: desavenças ligadas ao tráfico de drogas.
As execuções ocorrem a poucas quadras de distância uma da outra, na área mais afastada do bairro, onde há várias casas em construção e terrenos baldios tomados pelo matagal. A reportagem do Diário Digital percorreu as ruas onde os crimes ocorreram e tentou falar com moradores.
Assustados, a “lei do silêncio” falou mais alto que qualquer comentário sobre a violência ou o tráfico de drogas, no local. Os vizinhos preferiram não comentar sobre os fatos ocorridos.
Em uma das abordagens, o morador explicou, “vai me desculpar, mas não queremos falar nada. Aqui é perigoso! Se alguém descobre que a gente falou alguma coisa fica pior”, disse um homem, na Rua Saint Romain, sem se identificar.
Nesta quinta-feira (1º), policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar prenderam três pessoas suspeitas de participação no assassinato de Luiz Felipe da Silva, 22 anos, na tarde de ontem (31), na varanda da casa da Rua Antônio Meirelles Assunção.
Caio Cesar de Oliveira da Silva, 34 anos, Thiago da Silva Gomes, 23 anos, e Fabiano Saraiva, 20 anos, foram presos em flagrante. Caio e Fabiano confessaram aos policiais que dispararam mais de 20 tiros contra a vítima, usando o carro que emprestaram de Thiago, um Fiat Uno, de cor cinza, duas portas.
Já Thiago, alegou que o carro usado na execução era do “patrão” dele, um homem chamado Marcelo Rodolfo das Neves Oliveira que não foi localizado pela polícia. Na casa, supostamente de Marcelo, a polícia apreendeu porções de maconha e cocaína, dinheiro e uma balança de precisão. A arma que teria sido usada para matar Luiz Felipe, uma pistola.380, também foi localizada pelo Choque, enterrada no quintal da irmã de Fabiano.
Dois adolescentes que estavam na casa de Luiz Felipe, no momento do crime, disseram à polícia que a vítima teria sido advertida por estar comprando droga de vários fornecedores e que isso não seria bom porque o “chefão do bairro" iria “cobrar”.
O “chefão do bairro”, seria um homem chamado Thiago Paixão que está preso. Ele comenda o tráfico de drogas na região e já teria executado outras pessoas com quem tinha desavenças, segundo relatos.
A guerra do tráfico também teria custado a vida de Wagner Rocha Carneiro, de 37 anos, morto com 4 tiros de pistola 9mm, na noite de 9 de março, na Rua Saint Romain. A vítima havia acabado de chegar em casa quando foi atingida com os disparos.
De acordo com a polícia, a dinâmica do crime aponta que os tiros foram disparados de cima para baixo e o autor estava em uma laje de construção na casa ao lado, onde foi encontrado um estojo de munição. Foram feitos, pelo menos, 12 disparos contra Wagner.
A uma quadra do local onde Wagner foi assassinato, menos de dois meses antes, Henrique Lourenço da Silva, de 22 anos, foi executado em frente a esposa. Segundo familiares, o rapaz era usuário de drogas e teria vários desafetos. Na noite de 20 de janeiro, a esposa foi chama-lo na rua, ouviu o barulho dos tiros e viu o marido sair correndo.
Em seguida, a vítima caiu em frente à casa sem muro de uma vizinha. Os disparos foram feitos por um homem que passou de moto, chamou Henrique pelo nome, atirou várias vezes e fugiu.
Dívidas e disputa pelo “ponto” – Os três assassinatos são investigados pela 6ª DP (Delegacia de Polícia) que fica no Tijuca e, conforme as investigações, estariam diretamente ligados ao tráfico de drogas na área. O delegado Mikaill Faria, afirma que a região se tornou uma "mini-cracolândia", cercada de usuários e traficantes.
"Provável dívida de droga porque o desacerto naquele ponto está grande. A crise também afetou o tráfico, o que contribui para uma briga por território", explica o delegado.
No caso do homicídio de Luiz Felipe, a Polícia Civil representou pela prisão preventiva dos três homens localizados pelo Batalhão de Choque e procura por Marcelo, o quarto suspeito. Sobre a morte de Henrique e Wagner, até o momento, não houve nenhuma prisão.
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