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Polícia

'Fui chamado de 'neguinho', alega PM acusado de matar empresário no Procon

De acordo com o PM aposentado, ele só queria o seu direito como ser humano e não teve de volta

Sexta-feira, 25 Agosto de 2023 - 16:10 | Marina Romualdo


'Fui chamado de 'neguinho', alega PM acusado de matar empresário no Procon
José Roberto de Souza chegando na audiência de instrução (Foto: Luiz Alberto/Arquivo)

O policial militar aposentado da Polícia Militar, José Roberto de Souza, foi interrogado nesta sexta-feira, 25 de Agosto, durante a 2° audiência de  instrução e julgamento na 2ª Vara do Tribunal do Júri, em Campo Grande (MS). Ele é acusado de matar a tiros, o sócio-proprietário da "Aliança Só Hilux", Antônio Caetano Carvalho, de 67 anos, durante uma audiência de conciliação na Superintendência para Orientação e defesa do Consumidor (Procon-MS).

Nesta segunda etapa, apenas o acusado foi ouvido pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos. De acordo com José Roberto, ele ficou afastado por três anos por problemas de saúde (depressão e ansiedade) e, depois foi aposentado. No entanto, relatou que sempre trabalhou também como mestre de obra. "Então, cheguei nessa idade e queria o carro dos meus sonhos. Foi quando comprei um veículo modelo Toyota SW4, só que velha e precisava arrumar o motor do carro".

"Por ser uma empresa de nome, procurei a loja do Caetano e ele disse que o carro ia ficar bom. Ele disse que tinha um motor bom que já estava na loja, já fez a troca e fui embora. Porém, antes de chegar em casa, o carro já apresentou problemas e, com isso, retornei mais de 3 vezes na loja para tentar ver o que estava acontecendo. Só na primeira vez para fazer essa troca de motor, paguei a quantia de R$ 30 mil. E, como eu vi que não estavam resolvendo meus problemas, pedi o meu dinheiro de volta e fui chamado de "neguinho".

Conforme o PM aposentado, ele só queria o seu direito como ser humano e, ele morreu o devendo. "Mas, o Caetano insistia em dizer que não sabia como havia conseguido comprar o veículo e, que o 'povo' da corporação não desconfiava de mim. Foi quando eu vi que não teria jeito e fui procurar os meus direitos", relatou o acusado. Ainda de acordo com ele, o empresário falou por diversas vezes que não seria um "neguinho" que colocaria o nome dele na lama, pois, possuía contatos com pessoas importantes.

'Fui chamado de 'neguinho', alega PM acusado de matar empresário no Procon
O acusado continua preso pelo crime de homicídio (Foto: Luiz Alberto/Arquivo)

Procon – No dia 10 de Fevereiro ocorreu a primeira audiência de conciliação na Superintendência para Orientação e defesa do Consumidor. "Caetano chegou cheio de presente para a conselheira e os dois ficaram conversando. Eu queria apenas um motor novo, mas ele não queria e disse para esquecer aquilo e ir até a empresa dele para conversar".

Como nada ficou firmado na sexta-feira (10), foi agendada outra audiência para segunda-feira, 13 de Fevereiro, para que o empresário levasse o valor da nota fiscal com o valor de R$ 30 mil. Porém, quando ambos estavam na reunião, a nota fiscal era do valor de R$ 22 mil e Caetano ainda teria dito para o PM aposentado que ele estaria devendo um valor de R$ 630. Segundo José Roberto, neste momento, a vítima fatal teria feito um gesto obsceno para ele. Em seguida, se levantou e o acusado também, quando acabou desferindo três disparos de arma de fogo.

"Ele caiu para um lado e sai por outro. Ele não estava bem, não sabia o que estava fazendo e fui embora. Estava tonto, mas consegui dirigir não sei como", relatou o PM. Indagado pelo juiz pelo motivo de estar portando uma arma de fogo, o mesmo esclareceu que sempre andou armado e não teria premeditado o crime e, que foi apenas um instinto de se proteger.

O promotor de Justiça, Douglas Cavalheiro dos Santos informou ao Diário Digital que a instrução foi muito produtiva. "Nós levantamos elementos concretos que elucidaram efetivamente aquilo que houve no Procon. E, encaminhamos agora para alegações finais a fim desse processo em tempo razoável possa ser levado a júri e que a sociedade dê a resposta que a própria sociedade espera".

Defesa – O advogado de defesa, José Roberto da Rosa, destacou a instrução foi bem desenhada do que aconteceu no dia dos fatos. "O que ele vinha sofrendo por vários meses. Então, vamos verificar a viabilidade pelo fato de que temos uma pessoa que tem transtornos psiquiátrico de tudo ter fugido do seu controle e, isso pode ser explicado através dos laudos médicos. Vamos verificar todo o material e analisar o que será feito pela defesa", finalizou.

'Fui chamado de 'neguinho', alega PM acusado de matar empresário no Procon
Advogado de defesa José Roberto da Rosa falando sobre os próximo procedimentos (Foto: Luiz Alberto/Arquivo)

Relembre o caso –  O delegado da Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac-Centro), Antônio Ribas Júnior, disse que o autor alegou  que o crime não foi premeditado. "Após o crime realizamos as diligências para localizar o autor. Porém, como não houve o flagrante representamos com a prisão preventiva do autor e que foi aceito pelo Poder Judiciário.

"Durante o depoimento, o autor disse que efetuou os disparos por conta de uma disputa que ele tinha com a vítima relacionada ao problemas mecânicos de sua caminhonete SW4", relata o delegado. Segundo as informações, o PM aposentado procurou o comércio de Antônio para fazer a substituição do motor do veículo, porém, após os trabalhos realizados no automóvel foi apresentado problemas.

Os relatos são contados desde o mês de setembro, quando José Roberto procurou os serviços da loja da vítima. No entanto, ele relata que por diversas vezes foi destratado e tratado de forma desrespeitosa pelo sócio-proprietário. Por conta disso, resolveram procurar o Procon-MS.

'Fui chamado de 'neguinho', alega PM acusado de matar empresário no Procon
O empresário Antônio Caetano Carvalho morreu na hora (Foto: Reprodução/Rede Social)

No último dia 10 de Fevereiro, havia sido realizado uma audiência no órgão. Contudo, a situação não ficou resolvida e foi remarcada para o dia do crime na segunda-feira, 13 de Fevereiro. Nesta data, a vítima entregaria todas as notas fiscais com os valores dos serviços e o autor pagaria apenas os R$ 630 que ainda faltava – que seria relacionado a troca de óleo da caminhonete. O PM já havia quitado R$ 30 mil pelo serviço.

"O autor contou que na nota fiscal, o valor que o empresário teria colocado era outro, sendo que o mesmo já havia pago todos os valores maiores e não estava incluído na nota. Por conta disso houve uma discussão e, a vítima teria levantado e neste momento, José Roberto efetuou os disparos de arma de fogo. Em seguida, fugiu do local", esclareceu o delegado. De acordo com o autor, o crime não foi premeditado, pois, anda diariamente com arma de fogo pela cidade.

Diante dos fatos na manhã do dia 16 de fevereiro, José Roberto se apresentou à polícia e foi cumprido o mandado de prisão. Ele confessou à prática do homicídio e continua preso.

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