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Polícia

'Como você quer receber?', disse PM antes de matar empresário no Procon

Antônio Caetano Carvalho, de 67 anos, foi morto com três tiros durante audiência de conciliação

Segunda-feira, 03 Julho de 2023 - 17:50 | Marina Romualdo


'Como você quer receber?', disse PM antes de matar empresário no Procon
José Roberto de Souza continua preso após o crime (Foto: Luiz Alberto)

O policial militar aposentado da Polícia Militar, José Roberto de Souza, passou pela 1° audiência de instrução e julgamento nesta segunda-feira, 03 de julho, na 2ª Vara do Tribunal do Júri, em Campo Grande (MS). Ele é acusado de matar a tiros, o sócio-proprietário da "Aliança Só Hilux", Antônio Caetano Carvalho, de 67 anos, durante uma audiência de conciliação na Superintendência para Orientação e defesa do Consumidor (Procon-MS).

Durante a audiência de instrução, foram ouvidas seis testemunhas de acusação e duas testemunhas de defesa. Na data, o investigador da Polícia Civil, Joel Severino da Silva informou que quando chegou no local do crime encontrou a vítima no chão em uma poça de sangue já sem vida. "Tinha uma pasta ao lado do corpo da vítima que estava coberto com um pano. A investigação destacou que os dois estavam no local para oficializar um acordo".

"No entanto, o autor teria que pagar R$ 630, porém, isso não ocorreu e José Roberto dispara contra a vítima 3 vezes. Dois disparos atingiram o rosto e um atingiu a nuca do Caetano. Em seguida, ele foge do local e analisamos câmeras de segurança do momento em que ele está fugindo e, o mostra arrumando a calça – como se fosse arrumar a arma de fogo. No local, foram apreendidas as capsulas deflagradas e depois de três dias ele se apresentou à polícia", relata o investigador.

'Como você quer receber?', disse PM antes de matar
(Foto: Luiz Alberto)

O conciliador do Procon-MS, Luiz Alberto Fernandes Rojas, relembrou que no dia 13 de fevereiro, precisou interferir na reunião em que estava José Roberto e Antônio Caetano, pois, os ânimos estavam exaltados. "Eles tiveram uma audiência na sexta-feira (10) e já estava um clima pesado. Voltaram na segunda-feira (13) para fechar o acordo. A conselheira que estava na reunião me chamou, pois, eles estavam discutindo e apenas escutei "me respeita, me respeita. você acha que está falando com quem? [sic]".

"Fui na sala deles e pedi para ficarem calmos. Quando retornei para minha sala que fica quase de frente para a que eles estavam, avistei quando José Roberto se levantou e realizou o primeiro disparo de arma de fogo e já deitei no chão. Depois que parou, fui e tirei a conselheira da sala, mas não o vi fugindo do local. A briga foi por valores", finalizou.

A advogada, Wanessa Cristina Garcia, que estava no órgão no dia do crime também presenciou o homicídio. "A vítima estava sentada e lembro da conselheira gritando". Ela por ser amiga da conselheira ficou sabendo que na sexta-feira (10) o José Roberto já tinha xingado a vítima e, na segunda-feira (13), Antônio teria dito que não iria mais o humilhar. Já no dia do crime, durante a reunião a vítima fatal teria perguntado dos R$ 630 que ainda faltava e, o autor disparou 'como você quer receber?' e atirou três vezes contra o sócio-proprietário".

Entre as testemunhas, o filho do Antônio Caetano também foi ouvido. Wagner Tomé Caetano lamentou a morte do genitor. "Meu pai tomou três tiros na cara, sentado em uma segunda-feira às 8h da manhã em uma audiência de conciliação do Procon".

'Como você quer receber?', disse PM antes de matar
O filho da vítima Wagner Tomé Caetano também foi ouvido durante a audiência de instrução (Foto: Luiz Alberto)

Já como testemunhas de defesa, dois colegas de José Roberto foram ouvidos e disseram ficar desacreditados com o que ocorreu com o colega. "Nunca imaginei. Conheço o José há mais de 20 anos. Nos últimos dias, percebi que ele andava um pouco mais triste, mais quieto. Inclusive, no ano passado chegou a comentar sobre os problemas com o seu veículo e que o proprietário da loja estava falando 'gracinhas' em relação a cor de pele dele e como ele teria uma caminhonete SW4 blindada. Mas não acreditei na hora que fiquei sabendo do ocorrido", finalizou o também policial militar aposentado, Eraldo do Nascimento Silva.

Defesa – O advogado de defesa, José Roberto da Rosa destacou que neste momento o acusado está preso preventivamente e a defesa não tem interesse de fazer um pedido de revogação de prisão. Vamos esperar o juiz se manifeste e incide em questão de renuncia. "No entanto, existe de fato um problema de ordem psiquiatrica que foi trazido para nós pela família e essas documentações estão indo aos poucos para os autos do processo. Pois, os médicos psiquiatras estão analisando a saúde atual dele para que possa estabelecer um critério de como era a situação psiquiátrica dele no dia do crime".

'Como você quer receber?', disse PM antes de matar
Advogado de defesa José Roberto da Rosa reforça que as notas fiscais não se tratava de uma dívida de R$ 630 (Foto: Luiz Alberto)

"A ideia defensiva não vai repousar em nenhuma tese absolutória. Tudo leva a crer que de fato pela dinâmica eu poderia até chegar a sugerir uma legítima defesa, no entanto, não será esse o objeto. Nós vamos tentar trazer provas que esse crime não é qualificado". Por fim, Rosa reforça que as notas fiscais que fazem prova que não se tratava de uma dívida de R$ 630 e que isso foi apenas um gatilho do dia dos fatos e as formas discriminatórias pelas formas em que José Roberto foi tratado pela vítima.

Relembre o caso –  O delegado da Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac-Centro), Antônio Ribas Júnior, disse que o autor alegou  que o crime não foi premeditado. "Após o crime realizamos as diligências para localizar o autor. Porém, como não houve o flagrante representamos com a prisão preventiva do autor e que foi aceito pelo Poder Judiciário.

"Durante o depoimento, o autor disse que efetuou os disparos por conta de uma disputa que ele tinha com a vítima relacionada ao problemas mecânicos de sua caminhonete SW4", relata o delegado. Segundo as informações, o PM aposentado procurou o comércio de Antônio para fazer a substituição do motor do veículo, porém, após os trabalhos realizados no automóvel foi apresentado problemas.

Os relatos são contados desde o mês de setembro, quando José Roberto procurou os serviços da loja da vítima. No entanto, ele relata que por diversas vezes foi destratado e tratado de forma desrespeitosa pelo sócio-proprietário. Por conta disso, resolveram procurar o Procon-MS.

'Como você quer receber?', disse PM antes de matar
O empresário Antônio Caetano Carvalho morreu na hora (Foto: Reprodução/Rede Social)

No último dia 10 de Fevereiro, havia sido realizado uma audiência no órgão. Contudo, a situação não ficou resolvida e foi remarcada para o dia do crime na segunda-feira, 13 de Fevereiro. Nesta data, a vítima entregaria todas as notas fiscais com os valores dos serviços e o autor pagaria apenas os R$ 630 que ainda faltava – que seria relacionado a troca de óleo da caminhonete. O PM já havia quitado R$ 30 mil pelo serviço.

"O autor contou que na nota fiscal, o valor que o empresário teria colocado era outro, sendo que o mesmo já havia pago todos os valores maiores e não estava incluído na nota. Por conta disso houve uma discussão e, a vítima teria levantado e neste momento, José Roberto efetuou os disparos de arma de fogo. Em seguida, fugiu do local", esclareceu o delegado. De acordo com o autor, o crime não foi premeditado, pois, anda diariamente com arma de fogo pela cidade.

Diante dos fatos na manhã do dia 16 de fevereiro, José Roberto se apresentou à polícia e foi cumprido o mandado de prisão. Ele confessou à prática do homicídio e continua preso.

 

 

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