Geral
Médicos operam bebê no útero da mãe em hospital da Capital
Especialista em medicina fetal veio de São Paulo para realizar a cirurgia no Hospital Regional
Quarta-feira, 07 Fevereiro de 2024 - 14:00 | Redação
Uma equipe médica do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS) em Campo Grande (MS) realizaram cirurgia fetal para a correção de uma meningomielocele – malformação em um feto de 27 semanas. Foi o primeiro procedimento do tipo realizado no estabelecimento. Até então, o procedimento só tinha sido realizado duas vezes em território sul-mato-grossense.
A cirurgia fetal foi realizada no sábado, 3 de Fevereiro. A malformação consiste em uma abertura na parte da coluna vertebral do bebê, deixando a raiz nervosa exposta e podendo acarretar em sérios problemas como a paralisia e hidrocefalia. O especialista em medicina fetal, Maurício Saito, que veio de São Paulo para realizar a cirurgia, explica que a incidência da meningomielocele é de um para mil nascimentos no Brasil.
“A [malformação] mais comum é a que ocorre na parte final da coluna que é responsável pela movimentação dos membros inferiores, da urina e pelo controle intestinal. Então, como há essa exposição dos nervos é muito comum a criança ficar paraplégica, não ter o controle do urina e da evacuação”, afirmou.
Para corrigir a malformação, foi utilizada uma técnica minimamente invasiva com abordagem intra-utero por endoscopia, sem a necessidade de abrir a barriga da mãe como em cirurgias convencionais, conforme detalha o especialista em cirurgias minimamente invasivas, Dr Alexandre Silva e Silva, que também veio de São Paulo para realizar o procedimento.
“Durante o procedimento a parede abdominal e o útero não são abertos. São feitas pequenas incisões de aproximadamente meio centímetro por onde passam alguns tubinhos que chamamos de trocateres. Por ele introduzimos uma câmera e os instrumentos para realizar a correção da malformação”, acrescentou o especialista.
A paciente em questão foi encaminhada para o pré-natal de alto risco do HRMS e os dois especialistas vieram de forma voluntária para executar o procedimento. “Como temos esse contato com o professor [dr Maurício Saito], ele se dispôs a vir fazer a cirurgia aqui no hospital”, completou a médica ginecologista, Vanessa Chaves de Miranda.
Para a chefe do Centro Obstétrico do HRMS, Fernanda Moreira Faustino Sábio, essa é uma oportunidade única para aprimorar e melhorar o atendimento prestado à população. “Nos permite alcançar um nível de aprendizado muito grande, com especialistas renomados e um caso raro. Mostra que o hospital e o setor estão preparados para esse tipo de procedimento de alta complexidade”, afirmou.
A cirurgia foi acompanhada por integrantes de Programas de Residência Médica do HRMS e profissionais de outras unidades através de parceria com a Associação de Ginecologia e Obstetrícia de Mato Grosso do Sul. Residente do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do HRMS, Gidelson Júnior Zagonel da Silva conta como foi acompanhar um procedimento do tipo pela primeira vez.
“Encerro meu ciclo de residência em março e é a primeira vez que acompanho um procedimento dessa complexidade. Se trata de uma doença rara e quando a gente tem a oportunidade de ver um profissional qualificado e experiente, que já realiza cirurgias em São Paulo com uma frequência muito maior, isso é muito valioso”, afirmou o residente sobre sua experiência.
Especialista em medicina fetal, o diretor técnico da Santa Casa de Campo Grande, Dr Willian Lemos, também acompanhou o procedimento e destacou o benefício da cirurgia para a qualidade de vida do paciente.
“De fato é um procedimento complexo e temos diversos pacientes que são acometidos dessa doença no Brasil inteiro. Essa cirurgia é uma abordagem feita no mundo há cerca de 20 anos, então a gente precisa trazer isso para cá. Sabemos que uma cirurgia bem-feita, no período intrauterino, além de trazer benefício para o paciente, melhora no quadro motor. O paciente que acaba não realizando esse procedimento dentro do período fetal invarialvelmente será submetido, no período pós-natal, à derivação do ventrículo peritoneal – que é quando a gente coloca uma válvula para corrigir a hidrocefalia, que acaba sendo uma consequência dessa doença”, afirmou.
Para a diretora-presidente do HRMS, Marielle Alves Corrêa Esgalha, esse é mais um marco na história do hospital que vem, ano a ano, aperfeiçoando e ampliando a gama de atendimento em alta complexidade.
“Essa cirurgia reforça não só a qualidade do atendimento oferecido pelo nosso hospital, mas também na capacidade de lidar com procedimentos complexos de maneira eficaz. O HRMS mais uma vez se destaca mostrando excelência, dispondo de tecnologia de imagem avançada e instrumentação cirúrgica especializada, além de contribuir na capacitação de profissionais de saúde para procedimentos específicos”, afirmou.
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