• Diretor de Redação Ulysses Serra Netto

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Empresas discordam de dados sobre água

Quarta-feira, 24 Abril de 2019 - 19:30 | Redação


Após a repercussão de que a água consumida pela maioria dos sul-mato-grossenses estaria contaminada por ‘coquetel de 27 agrotóxicos’, as concessionárias Sanesul e Águas Guariroba foram convocadas pela Frente de Recursos Hídricos a participar de mesa redonda nesta quarta-feira (24) a fim discutir a qualidade da água ingerida pela população do Estado. Durante a reunião foi revelado um equívoco; de acordo com alguns compositores da mesa os números divulgados no último dia 15 não seriam genuínos, portanto a qualidade da água de Mato Grosso do Sul estaria sim dentro do recomendado.

Foi Clayton Bezerra, Gerente de Tratamento de Águas da Águas Guariroba, quem pronunciou o lapso. Os dados divulgados pela imprensa foram retirados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (SISAGUA) e estavam em condição bruta, ou seja, ainda não tinham sido analisados. Como explicou o coordenador estadual de vigilância ambiental da Secretaria Estadual de Saúde, Karyston Adriel, “todo dado bruto deve ser tratado antes para se transformar em informação correta e compreensível”.

Mato Grosso do Sul possui duas empresas concessionárias de água e outros 11 sistemas de abastecimento autônomos, estes distribuidores da ‘fonte da vida’ são os responsáveis pela análise de qualidade da água distribuída para população, mas segundo seus representantes o MS não possui laboratório de estudo que disponha de equipamentos que identifiquem quantidade exata de agrotóxicos existentes na água. O custo para envio e análise de amostras em outros lugares do Brasil seria muito alto, por isso a dúvida se torna permanente. Qual a quantidade de agroquímicos que o sul-mato-grossense ingere através da água?

Alexandra Pinho é doutora em engenharia química pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e explica que o uso de agrotóxicos sem limite estabelecido é de grande perigo para a população brasileira. Estes componentes são levados pra as águas dos rios que abastecem não apenas as casas, mas também todo um ecossistema. Além de causar riscos para a saúde do ser humano com o desenvolvimento de síndromes intermediárias e até problemas morfológicos, a água contaminada pode destruir todo um meio ambiente. De acordo com estudos citados por Alexandra além de ser encontrada alta concentração de produtos agrícolas em água de poço, também foram encontrados agroquímicos no leite materno.

Diretor comercial e de operações, o representante da Sanesul Onofre Assis de Souza disse que ficou surpreso com a divulgação da chamada ‘interpretação equivocada’ dos dados do SISAGUA, ele garantiu que são “interessados na discussão e no desenvolvimento de melhorias” e que “qualquer empresa do setor cumpre a Legislação” assim como afirmou Clayton da Águas Guariroba “estamos dentro dos padrões”. Nenhum interesse em implantação de laboratório que supra necessidade de análises de presença de agrotóxicos na água de MS foi apresentado.

Todos os resultados de análise apresentados pela Águas Guariroba estavam abaixo do limite de quantificação (LQ) que é definido pelo Inmetro, de acordo com Clayton Bezerra desta maneira não haveria como identificar a presença de agroquímicos na água ingerida pela população. O diretor executivo ainda exclamou que a “maior parte do país não investiga agrotóxicos e estamos sendo ‘sabatinados’ por fazer a análise” para ele a divulgação de informações “beneficiou quem não faz e banalizou quem apresenta”.

“É natural que haja utilização maior de agrotóxicos no Brasil, um país que tem dois ciclos de produção” alegou Dirson Freitag, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-MS), para ele o Brasil tem uma legislação muito rígida em relação ao uso de componentes agrícolas. “Estamos trabalhando para redução do uso desses produtos” afirmou ele que acredita ser complicado desenvolver estudos sem base técnica.

“A gente precisa de trabalhos, pesquisas, estruturas” disse a coordenadora de Vigilância de Saúde Ambiental, Silvia Barbosa. Ao comentar sobre o SISAGUA, Silvia afirmou a grande necessidade de um aprimoramento além de maiores discussões da portaria.

Existe sim a contaminação de água por agrotóxicos! O que oscila são os níveis de componentes utilizados que podem ser bastante prejudiciais com o uso acumulativo. É importante lembrar que o tratamento da água que escorre pelas torneiras das residências brasileiras não é capaz de retirar os agroquímicos que passaram a compô-la.

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