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Briga por fazenda e "traição" motivaram execução que matou Matheus por engano

Jamilzinho Name e mais dois encaram júri popular até quinta-feira (20) por execução planejada

Segunda-feira, 17 Julho de 2023 - 11:34 | Victória Bissaco e Thays Schneider


Briga por fazenda e "traição" motivaram execução que matou Matheus por engano
Mãe de Matheus Coutinho encara Jamilzinho - (Foto: Luciano Muta)

Nesta segunda-feira, 17 de julho, ocorre no Fórum de Campo Grande o júri popular de Jamil Name Filho, o Jamilzinho, Vladenilson Daniel Olmedo e Marcelo Rios pela morte do estudante de Direito Matheus Coutinho Xavier, em 2019. O alvo da execução era, na verdade, o pai da vítima fatal, Paulo Xavier, ou “PX”, motivada por briga por fazenda milionária e troca de patrões.

O sorteio do julgamento definiu cinco homens e duas mulheres como os representantes do Conselho de Sentença. Os escolhidos, que têm a identidade preservada por segurança, ficarão em resguardados em hotel da Capital com forte esquema de segurança até o fim do julgamento, previsto para a quinta-feira (20). Na parte de acusação, a mãe de Matheus Coutinho Xavier, a advogada Cristiane de Almeida Coutinho será assistente.

"Traição" motivou execução por engano
Mãe de Matheus Coutinho é assistente de acusação - (Foto: Luciano Muta)

Matheus Coutinho Xavier foi executado com tiros de fuzil enquanto saía de casa no dia 09 de abril de 2019,  no bairro Bela Vista, em Campo Grande. Além dos três réus, participaram do esquema de execução Jamil “pai”, que morreu de Covid-19 em 2021, mais dois pistoleiros - um morto em troca de tiros com a Polícia em Mossoró (RN) e outro foragido desde a execução do jovem - e um hacker, que foi inocentado.

A primeira testemunha a ser ouvida hoje foi a delegada Daniella Kades de Oliveira Garcia, que atuava na Delegacia Especializada em Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras) e participou da investigação da morte do jovem. Na época, entre 2018 e 2019, explicou a delegada, a Polícia Civil notou onda de assassinatos incomuns na Capital. "Mortes com fuzil e veículos de incêndio. Os crimes eram muito próximos um do outro. As investigações começaram com a morte do ‘Playboy da Mansão’ [em 2018]", contou a testemunha.

"Traição" motivou execução por engano
Jamilzinho, Vlad e Marcelo Rios, da esquerda para direita, são réus até dia 20 - (Foto: Luciano Muta)

As mortes foram orquestradas justamente pela família Name, envolvida com milícia e o jogo do bicho em Mato Grosso do Sul, conforme resultados da Operação Omertà, deflagrada no ano de 2019, em ação conjunta entre Garras, Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), Batalhão de Choque e Batalhão de Operações Especiais (Bope). 

Segundo as investigações, os Name são mandantes de, ao menos, cinco assassinatos e outros crimes como posse ilegal de armas e corrupção ativa e passiva. O objetivo era eliminar qualquer pessoa que atrapalhasse os planos da poderosa família. 

Alvo era o pai

Hoje, os réus são julgados apenas pela execução do estudante Matheus Coutinho Xavier, com 19 anos na época. A delegada Daniella Kades de Oliveira explicou ao Plenário que o alvo da ação criminosa era o pai da vítima, o capitão reformado da Polícia Militar Paulo Roberto Teixeira Xavier, que já havia prestado serviços de segurança para a poderosa família Name.

"Traição" motivou execução por engano
Réus escutam depoimento de delegada - (Foto: Luciano Muta)

Na época do crime, no entanto, PX, como era chamado, estava afastado das funções e trabalhava para o advogado paulista Antônio Augusto de Souza Coelho. O homem e os Name eram rivais por conta da venda da Fazenda Figueira, localizada em Jardim (MS), que já foi palco de seita coreana do Revendo Moon. 

Conforme a delegada, Jamil filho negociou a propriedade rural com Coelho. Depois de um tempo, tentou comprá-la de volta. O advogado paulista se negou a vendê-la para os Name e passou para outra pessoa por preço mais baixo. “Chegamos a conclusão de que tudo começou pela venda dessa fazenda, porque ela vale milhões", pontuou a delegada do Garras.

O capitão reformado da PM entra na história quando deixa de trabalhar para Jamilzão e Jamilzinho e passa a prestar serviços para o advogado Antônio Augusto. Os “Jamis”, então, pediram para que PX intermediasse as negociações da fazenda, porém, não quis. Para a família poderosa do Estado, a ação foi vista como uma traição de Paulo Xavier. 

"Traição" motivou execução por engano
Jamilzinho Filho, à esquerda, seria mandante da execução - (Foto: Luciano Muta)

O ex-segurança dos Name foi a primeira testemunha a ser ouvida em audiência remota em 2020. Na ocasião, acusou os Name de tentarem convencê-lo a deixar a cidade após a morte de Matheus. Ele disse ter sido levado à casa dos Name e recebido uma oferta de dinheiro.

Operação Omertà

A Operação Omertá prendeu 19 pessoas, recolheu armas, telefones celulares, computadores, dinheiro e folhas de cheque. Entre os presos estão o empresário Jamil Name, o filho dele Jamil Name Filho, funcionários da família, policias civis, guardas municipais, militar da reserva do Exército, policial federal, dentre outros.

 As investigações do Gaeco tiveram início em abril deste ano e foram instaurados com o fim de apoiar  o trabalho de elucidação dos homicídios de Ilson Martins Figueiredo, Orlando da Silva Fernandes e Matheus Coutinho Xavier, conduzido  pelo Garras desde 26 de Abril.

"Traição" motivou execução por engano
Réus são julgados quatro anos após Operação Omertà - (Foto: Luciano Muta)

Desde então, as equipes do Gaeco e Garras desenvolvem trabalho em conjunto, o que propiciou, já em 19 de maio de 2019, a prisão de um dos integrantes da organização criminosa em poder de parte do armamento pertencente à mesma, sendo 2 fuzis AK 47; 4 fuzis 556; 11 pistolas 9mm dentre outros. As diligências que culminaram no encontro do armamento e prisão do membro da organização responsável pela sua custódia e administração contaram também com o apoio do Choque.

Com os 19 presos desta sexta-feira, foram apreendidas mais armas de fogo, munição, aparelhos celulares (inclusive aqueles conhecidos popularmente como "bombinhas"), computadores, documentos e aproximadamente R$ 160 mil, além de cheques em nome de terceiros.

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