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Polícia

Proprietária de creche ficará presa e funcionária responderá em liberdade

Mulheres foram flagradas agredindo e dopando crianças em uma creche em Naviraí

Quarta-feira, 12 Julho de 2023 - 09:04 | Victória Bissaco


Proprietária de creche ficará presa e funcionária responderá em liberdade
Delegada Sayara Baetz, delegado Thiago Passos e equipe policial da DAM - (Foto: Divulgação)

A proprietária da creche particular de Naviraí, Caroline dos Reis, de 30 anos, que foi presa em flagrante por torturar alunos, continuará presa preventivamente. A mulher foi flagrada pela Polícia Civil agredindo e torturando crianças. Uma funcionária, de 26 anos, também foi presa por dopar as vítimas. Ela pagou fiança e responderá o processo em liberdade.

Segundo o delegado regional de Naviraí, Thiago José Passos da Silva, o videomonitoramento foi instalado pela equipe do Departamento de Inteligência da Polícia Civil sem que a proprietária da creche ou vizinhos soubessem. Foi por meio das imagens captadas que a ocorrência dos crimes de tortura e exposição da vida e saúde à risco foi confirmada. “Imediatamente após a instalação desse equipamento nós começamos as interceptações, de fato, na segunda-feira, quando foram registradas imagens fortes de agressões e tortura de crianças naquele estabelecimento", explicou.

A ação da Polícia Civil no caso exigiu agilidade, “até para não expormos essas crianças ainda mais à presença dessa pessoa, porque as agressões eram constantes”, reforçou o delegado. A proprietária do local, Caroline dos Reis foi presa em flagrante por  tortura qualificada e exposição da saúde de outrem à perigo.
 

Dona fica presa e funcionária foi solta
Delegado Thiago José Passos da Silva comenta caso - (Foto: Divulgação) 

A delegada-titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DAM) de Naviraí, Sayara Quinteiro Martins Baetz relatou que as agressões foram captadas horas após a instalação das câmeras. “Iniciamos o monitoramento na segunda-feira de manhã e logramos êxito em identificar imagens onde havia realmente a confirmação da totura”, afirmou.

Conforme noticiado anteriormente pelo Diário Digital, as imagens de agressões capturadas foram contra uma bebê, de apenas 11 meses. A delegada Sayara Baetz detalhou que a menina foi sacudida, jogada contra colchão e estapeada “simplesmente pelo fato de ela estar chorando”. As agressões serviam como forma de castigo. “Nós também percebemos que a bebê dormiu grande parte do tempo em que ela estava ali e isso não seria normal para um bebê daquela idade, então possivelmente havia sim administração de medicamentos”.

Posteriormente, as imagens também capturaram a suspeita da Polícia Civil. A funcionária foi flagrada administrando os remédios que induziam o sono nas crianças. Segundo a delegada, a medicação é comumente utilizada para tratamento de vômitos e enjoos, proibida para crianças menores de dois anos. Ela foi presa pelo crime de exposição da saúde de outrem à perigo.

Dez mães ouvidas

A Polícia Civil de Naviraí dá continuidade à investigação do caso. Até o momento, conforme a delegada Sayara Baetz, foram ouvidas 10 mães para relato do que perceberam durante o tempo em que os filhos ficaram no local. “As mães começaram a relatar que as crianças chegavam em casa com fome, com sede, sonolentas, dormiam o restante da tarde e a noite, sem acordar, e tinham dificuldade de acorda no dia seguinte”, pontuou.

Ainda, alguns responsáveis também relataram que as crianças chegavam arranhadas e machucadas. “Elas cobraram isso da proprietária da creche, mas receberam alguma devolutiva de que a criança tinha se machucado, mordido a língua, ou que não gostava de determinado alimento”.

Dona fica presa e funcionária foi solta
Delegada Sayara Baetz deu detalhes do caso - (Foto: Divulgação)

A proprietária da creche foi ouvida e afirmou durante o interrogatório que uma das crianças havia quebrado uma televisão na sexta-feira. Isso teria deixado a mulher nervosa e, por isso, arremessou o bebê contra a cama. Caroline dos Reis também afirmou que estapeou o rosto da criança em questão “para que ela pudesse dormir”. “Ela negou qualquer tipo de administração de medicamento, mas, de fato, esse medicamento foi apreendido”, explicou a delegada-titular da DAM, 

A delegada também explicou que alguns pais capturaram imagens dos filhos sonolentos e sem reação. “Nós ouvimos agora relatos de que havia crianças que faziam ‘xixi’ na creche e a cuidadora chamava as outras crianças e as obrigava a chamar de ‘mijão’, porque senão elas ficariam de castigo, e uma série de condutas que humilhavam essas crianças”, pontuou.

“Grande maioria relatou que os filhos chegavam em casa com fome […] Deixo esclarecido que são aproximadamente 40 crianças atendidas no período total, porque é uma creche que funciona de segunda a sexta e sábado também”, pontuou.

Criança ficou traumatizada 

O caso veio à tona na semana passada, após uma ex-aluna da creche relatar a educadores de uma escola de Naviraí o ocorrido. Os profissionais acionaram o Conselho Tutelar, que levou o caso à Polícia Civil. “A criança frequentava o estabelecimento. Ela não tinha sido vítima, mas estava tendo crises de ansiedade, choro constante, vômito, não conseguia ir direito para a escola, porque havia presenciado cenas que configuravam verdadeiras sessões de tortura”, explicou a delegada.

Dona fica presa e funcionária foi solta
Creche onde os crimes ocorriam - (Foto: Divulgação)

Ainda, segundo o relato da criança, via quando a proprietária colocava pano na boca dos alunos da creche para que ela pudesse assistir série de televisão e batia a cabeça dos bebês contra o sofá, para que eles ficassem quietos. “Houve também o relato de administração de medicamentos para que as crianças dormissem e parassem de chorar”. 

Proprietária segue presa

Caroline dos Reis, ou apenas ‘Carol, como é conhecida, responderá pelo crime ’atrás das grades'. Conforme decisão do juiz Paulo Roberto Cavassa de Almeida, a prisão em flagrante foi convertida em preventiva. A decisão considera que a mulher é perigosa para a ordem pública, “dada a gravidade concreta dos fatos, consubstanciada pela violência contra crianças”. Ainda, o documento prevê que “a indiciada possui extensa ficha criminal a indicar se tratar de pessoade má índole, perigosa e com possibilidades concretas de reiteração delituosa”.

A funcionária, que trabalhava no local há quatro meses, pagou fiança de R$ 1320 e responderá pelos crimes em liberdade. 

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