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UFMS divulga pesquisa que aponta 75 espécies que podem desaparecer do Pantanal
Com foco em anfíbios, pesquisa aponta animais que estão em risco de extinção por vários fatores
Sexta-feira, 21 Fevereiro de 2025 - 09:50 | Redação
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Segundo estudo desenvolvido pelo Instituto de Biociências (Inbio) da UFMS, em parceria com a Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Mato Grosso e Universidade Estadual de Campinas, entre 16% e 27% dos anfíbios podem desaparecer do Pantanal até 2100. Ou seja, até três em cada dez espécies podem ser extintas do ecossistema nos próximos 75 anos em áreas protegidas (APs) devido às mudanças climáticas.
De acordo com o coautor do artigo, professor do Inbio e coordenador do Laboratório de Biogeografia e História Natural de Anfíbios e Répteis, Diego Santana, existe uma conexão direta entre as crises hídricas, os incêndios florestais e a degradação ambiental e o aumento do risco de extinção. Dentre os organismos mais vulneráveis às mudanças climáticas estão os anfíbios, que são dependentes de água e pântanos.
“Mesmo seguindo o acordo de Paris, o aquecimento global já é uma realidade de hoje e não algo só para o futuro. Só não temos crise de Dengue, Zika ou outras doenças emergentes maiores porque existem os sapos, além de outros anfíbios como rãs e pererecas, que também são responsáveis pelo controle de vários vetores de doenças”, explica o professor.
Conforme a pesquisa, as projeções climáticas variam conforme diferentes caminhos socioeconômicos compartilhados, que traçam cenários para as emissões de gases de Efeito Estufa e o progresso. Em um cenário otimista, as mudanças climáticas podem reduzir, em média, 41% da área de ocorrência de anfíbios até 2100. Segundo o professor, a situação poderia impactar também a economia, já que seria necessário adotar medidas sanitárias para mitigar os danos causados pelo excesso de pragas em diversas culturas, como a soja e o milho.
“Se você retira todos os anfíbios das áreas próximas às lavouras, das fazendas, não tem mais sapo coaxando, isso causaria prejuízo de milhões de dólares ao agronegócio. Por que tem sapo perto das lavouras? Porque eles comem muitos insetos que são de interesse econômico, como os besouros, mosquitos e gafanhotos, considerados pragas em plantações. Então, se não fizermos algo para mudar, porque o cenário só piora, esse impacto provavelmente vai ser muito maior”, enfatiza Diego.
O estudo ainda revela que as áreas protegidas são cruciais para a conservação da biodiversidade, mas essas mudanças no clima ameaçam sua eficácia em longo prazo ao deslocar as distribuições de espécies
A maior área úmida tropical contínua do mundo, o Pantanal, está situada na Bacia do Alto Paraguai na América do Sul, com menos de 5% da área dentro de APs. Das 74 espécies de anfíbios encontradas nessa região, 4% estão ameaçadas.
As secas recorrentes, somadas às crescentes pressões humanas, trazem risco à fauna semiaquática da região. O artigo também sugere que, nos próximos 75 anos, mais de 80% das espécies de anfíbios da área de estudo perderão habitat adequado, com 99% dos conjuntos de anfíbios enfrentando perda de espécies causada pelo clima.
“Na região de Porto Murtinho tem uma espécie de barriga vermelha com o nome científico Melanofrimiscus furvogutatus, que não existe em outro lugar do Brasil todo. Então, quem quiser ver esse bicho ou saber mais sobre o animal, só tem ali, naquela região. Infelizmente, ele é um dos que está nessa lista, mas daqui há 30 ou 40 anos, muito provavelmente, ele desaparecerá, se não agirmos rápido”, reforça.
Ainda conforme a pesquisa, a Bacia do Alto Paraguai está cada vez mais ameaçada devido à expansão das plantações de soja, ao desmatamento nas nascentes dos rios e a incêndios florestais graves, como o que ocorreu em 2020 no Pantanal e que queimou 3,8 milhões de hectares, matando mais de 17 milhões de animais vertebrados.
As terras altas, particularmente nas fronteiras norte e sudeste da Bacia do Alto Paraguai, são áreas prioritárias identificadas para expansão da rede de preservação ambiental, devido às altas mudanças projetadas na biodiversidade de anfíbios. Embora a rede de preservação ambiental existente tenha representação limitada de espécies, espera-se que, sob condições climáticas futuras, 13,7% das APs abriguem mais espécies de anfíbios do que o estimado.
Mitigação de danos
Mato Grosso do Sul já possui uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, que tem o objetivo de proteger diversas espécies da região pantaneira, porém, segundo Diego, o local foi construído há pouco tempo e não há estudos consolidados. “Ainda não conseguirmos desenvolver pesquisas bem-feitas neste local, por motivos burocráticos ou de acesso. Existem várias propriedades rurais que são muito importantes e algumas realmente respeitam seus limites de preservação, mas deveríamos melhorar o monitoramento e fiscalização”, pontua.
No Brasil, estão declaradas extintas apenas duas espécies de anfíbios que habitavam na Mata Atlântica, porém o estudo mostra que outras estão sob risco de desaparecerem. “Às vezes, a espécie não foi necessariamente extinta e sim, desapareceu de algumas regiões devido aos fatores externos. Isso também é muito ruim, porque estamos perdendo aos poucos vários animais. Perdemos muito com isso e o habitat também. Imagina não ter o som dos sapos, as cores que eles trazem para o ambiente e, definitivamente, essa situação pode levar à extinção de outras espécies também”, lamenta.
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