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Endividado, Hospital do Câncer atrasa atendimentos oncológicos
Déficit de R$ 780 mil atrasa exames, barra compra de materiais, remédios e até pagamento de salários
Sexta-feira, 10 Fevereiro de 2023 - 13:32 | Pedro Santos
Com déficit orçamentário de quase R$800 mil ao mês, o Hospital Filantrópico do Câncer Alfredo Abrão, de Campo Grande/MS, faz um apelo de ajuda para poder equilibrar suas contas e assim prestar um melhor atendimento ao público que precisa ou está em tratamento oncológico. Em entrevista ao Diário Digital, o administrador do hospital, o senhor Amilton F. Alvarenga, explica um pouco mais da situação financeira que vem se arrastando no filantrópico por mais de uma década.
De acordo com Amilton F. Alvarenga, o único hospital de câncer do Estado de Mato Grosso do Sul, o qual atende 70% dos pacientes do MS, sendo 38% deles apenas do interior, se encontra em um aperto financeiro de R$780 mil mensais. Segundo os dados da administração, o hospital arrecada R$3.200.000 ao mês, com uma despesa total de R$4 milhões.
“Esse déficit mensal representa quase 20% da nossa receita. De tudo que a gente arrecada, esse 20% é o que nós não estamos conseguindo pagar. Ele fica pra trás. Todo mês essa despesa vai se arrastando”, explica o administrador.
Amilton Alvarenga afirma que os recursos do Governo Municipal e do Estado repassados ao Alfredo Abrão não são suficientes, já que os preços pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pelos serviços prestados são baseados na Tabela SUS, os quais não são reajustados a mais de 10 anos.
Com isso, entre 2011 e 2015, o Hospital do Câncer acabou recorrendo a um empréstimo para custear os serviços, medicamentos, equipes e etc, algo que contribuiu muito para o atual déficit.
“Esse empréstimo foi sendo renovado e essa dívida vem se acumulando porque os recursos vindos do Governo Público não cobrem totalmente os nossos custos”, afirma Amilton.
O administrador explica que 80% das despesas estão centralizadas em três pilares:
- Em primeiro lugar e que mais consome a arrecadação é o salário da equipe hospitalar;
- Em segundo lugar estão os materiais médicos e medicamentos;
- Em terceiro lugar está o pagamento dos médicos, o qual é separado, já que eles não são funcionários do hospital, mas prestadores de serviço.
Em relação aos medicamentos e aos materiais, Amilton Alvarenga chama a atenção também para o aumento disparado de seus preços no auge da pandemia de COVID-19. Alguns chegaram a ter reajuste de até 600% em 2021. Em média calculada pelo próprio hospital, os medicamentos tiveram aumento de 152%. Contudo, no fim da pandemia, os mesmos não retornaram aos preços anteriores ao período de crise, mantendo-se 48% mais caros em relação ao ano de 2019, algo que não foi considerado pelo Governo Público em seus envios de verbas.
“Esse choro não é só no hospital do câncer, é em todo o lugar. É algo que precisa ser discutido e a revisão deste contrato”, ressalta o administrador.
Emendas Parlamentares - Para Amilton F. Alvarenga, emendas parlamentares conquistadas por vereadores, deputados ou senadores, não é a política ideal para o Hospital.
“Despesa mensal é mensal. É uma despesa fixa. Se você me dá RS5 milhões, com um déficit de R$800.000, ele acaba em 5 meses e o meu déficit continua. O que nós precisamos é uma revisão do contrato. Eu tenho uma despesa e preciso remunerá-lo. É algo que precisa ser permanente”, afirma Amilton.
Demora de exames - Segundo usuários do Hospital Alfredo Abrão, alguns exames de diagnósticos de câncer como o anatomopatológico, ressonância magnética e ultrassonografia estão sofrendo demora em seus resultados de 30, 60 e até 90 dias ou não estavam sendo feitos, principalmente aqueles que realizados pela Diimagem.
Alvarenga confirmou o fato e disse que a falta de pagamento a Diimagem tem haver com a dificuldade do SUS em honrar sua parte da remuneração.
“Nós contratamos com o Munícipio 40 ressonâncias por mês em contrato. A prefeitura paga R$258 para cada exame, sendo que a empresa cobra R$400 cada um deles. No mês passado, foram 89 desse exame. Nessa conta ficou 40 pra trás. É um prejuízo de 50%. A gente tem que pagar a empresa, à vista e adiantado. Se não pagar, não tem exame. A fila vai aumentar sem parar e são exames muito importantes”, exemplifica Amilton.
Reunião com a Prefeita e visita do Secretário Estadual de Saúde - A prefeita Adriane Lopes esteve em reunião com a equipe administrativa do Hospital do Câncer Alfredo Abrão no dia 16 de janeiro de 2023, onde foi buscado um “maior apoio” da Prefeitura com um estudo econômico-financeiro e mostrando a realidade orçamentária do filantrópico.
De acordo com Amilton Alvarenga, o Governo Executivo Municipal acordou em retornar o pedido de ajuda do Hospital em até 10 dias úteis depois da data do encontro, ou seja, no dia 30 de janeiro. Entretanto, até o momento da produção desta reportagem, a Prefeitura não deu nenhum retorno.
Além disso, nesta quarta-feira(8), o Secretário de Saúde do Estado, Maurício Simões, esteve no Hospital do Câncer em reunião com o administrativo para analisar as reivindicações do Alfredo Abrão. Na semana que vem, haverá outro encontro da Secretaria de Saúde do Estado (SES) com a equipe do filantrópico, provavelmente para dar uma resposta à petição de mais apoio financeiro.
“Nós somos um hospital filantrópico. Não queremos lucrar. Queremos apenas equilibrar as contas e prestar um melhor serviço no tempo correto. Quando falamos de tratamento de câncer, cada minuto conta. A sensação de quem trabalha aqui é de que pode ser feito muito mais porque tem condição técnica, estrutura e equipe competente”, expressa o gestor.
Em resposta ao Diário Digital, a Prefeitura afirma que “é necessário que o contrato em questão passe por uma auditoria, que é um procedimento padrão para todas as parcerias que são firmadas com a Secretaria Municipal de Saúde (SESAU)”. Segundo o Município, a revisão do contrato se encontra em sua fase final, dizendo que “em breve o hospital deverá ser acionado novamente para que seja feita a assinatura por ambas as partes envolvidas”. Apesar disso, não deu especificou nenhuma data.
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