Geral
Colegas de salão, cabeleireiro e barbeiro iniciaram em ramos diferentes e hoje possuem mais de 30 anos de beleza
'Joãozinho' iniciou como engraxate aos 12 anos, enquanto 'Pedrinho' era técnico de enfermagem
Quarta-feira, 20 Julho de 2022 - 10:53 | Victória de Oliveira
O que um técnico em enfermagem de formação e um engraxate de primeira profissão possuem em comum? Bom, a mudança de ramos para o mundo da beleza e o amor pela atual profissão. Essa é a história dos colegas de trabalho Pedro Camargo, de 58 anos, o ‘Pedrinho’, e João Batista Nogueira, de 55 anos, o ‘Joãozinho’, que atendem os clientes juntos em salão de beleza na Rua José Antônio.
Antes de se encontrarem e criarem amizade, aprenderam com o tempo as atuais profissões. O mais velho, Pedrinho saiu de Campo Grande e mudou para a capital paulistana, São Paulo, antes dos 20 anos para cursar técnico em enfermagem. Ficou 10 anos na profissão antes de migrar de vez para o ramo da beleza. Desenvolveu os aprendizados como cabeleireiro após curso pago pela família que cuidava como técnico em enfermagem, já de volta a capital sul-mato-grossense.
“A família que eu cuidava me achava muito alegre e que os hospitais não eram para mim, porque era um lugar mais sombrio. Então, me deram de presente um curso de cabeleireiro”, lembra. Atualmente, soma mais de 30 anos de profissão e garante que não se vê em outra área. “Aqui eu faço meu próprio horário, atendo com hora marcada. Amo o que eu faço e o que já fiz durante todos esses anos”, conta.
Já João, mesmo em outra área, teve contato mais cedo com o ramo da beleza: aos 12 anos, quando começou como engraxate em uma barbearia de Campo Grande. Aos 15, virou barbeiro e não parou desde então. “Já trabalhei na antiga rodoviária, na Scorpions, que era uma das mais famosas na capital”, explica. Porém, para Joãozinho o trabalho como barbeiro e cabeleireiro necessitava de estudo. “Aos 23 [anos] fui para Portugal, fazer curso de cabeleireiro. Fiz muitos cursos lá, trabalhei num salão francês que tinha franquia em Portugal. Fiquei lá quase 1 ano e resolvi voltar para cá”.
O barbeiro retornou a Campo Grande pois sentia saudades. Saudade da família, saudade dos amigos, saudade do calor dos brasileiros. “Foi no retorno que trabalhei na Scorpions. Na verdade, fui um dos fundadores, junto do Ronaldo e o Júnior”, recorda. A barbearia ficava em frente à Chatanooga, boate que fez sucesso nos anos 80 e 90, na Capital. Hoje, nenhum dos dois existem mais, porém, marcaram presença na rotina dos campo-grandenses e visitantes da época.
“De lá para cá, estou há mais de 30 anos na José Antônio”, declara. Joãozinho reforça que atuou em diferentes salões na rua em questão, antes de se firmar na atual casa comercial da José Antônio que divide espaço com o salão de Pedrinho e com o estúdio das trancistas Tininha e Ale, que há 5 anos deixaram a vida de funcionárias e abriram juntas o espaço de beleza voltado para tranças afro, mega hair, nagô e dreadlocks.
Experiências
Claro que mais de 30 anos de profissão trazem experiências inusitadas na bagagem. Pedrinho atuou diversas vezes na organização de concursos de beleza e escolas de samba. “No auge dos concursos de misses aqui na Capital. Eu me divertia, era um máximo”, lembra com carinho da época. Conta, inclusive, que gostava de brincar com as participantes. “Em três dias de concurso a gente já sabe quem vai ganhar. É nítido. A miss é diferente. Mas eu gostava de chegar na participante que eu tinha certeza que não levaria nenhuma colocação e falar que ela era a escolhida”, brinca,
Fora concursos de beleza, foi responsável por ajudar na preparação de diversos desfiles de Carnaval no estado. “Tinha que acompanhar a sambista para onde quer que ela fosse, sempre com fita para arrumar o salto que às vezes quebrava”, conta. Inclusive, ajudou no retorno das festividades em Mato Grosso do Sul depois do período crítico da pandemia e atuou na preparação do Carnaval de Corumbá 2022.
Para João, a experiência mais inusitada foi, definitivamente, a viagem para Portugal. “Eu estava em uma roda de amigos tomando cerveja e falei que ia para Portugal. Um [amigo] duvidou, disse que eu não iria. Então, peguei e vendi tudo que eu tinha na época e fui”, conta.
Ao chegar no país estrangeiro, não tinha onde ficar. Foi quando telefonou para o pai de um amigo que morava em Setúbal (PT). Viajou até a cidade e iniciou as ligações para o homem, que só o atendeu no final do dia. “Falei que era amigo do filho dele do Brasil, estava em Portugal e precisava de uma ajuda, um hotel barato de referência. Ele me perguntou onde eu estava e eu respondi que era na rodoviária de Setúbal. Então, me buscou e deixou eu ficar na casa dele”, lembra.
O barbeiro lembra da experiência com carinho e um sorriso estampado no rosto. Porém, explicou que a vida portuguesa era muito sozinha, e após muito choro e tristeza, tomou o rumo de volta para a capital sul-mato-grossense.
Problemas de saúde
Antes e durante a pandemia, os colegas lidaram com situações delicadas na saúde. Começou em 2019, quando Pedro descobriu um infarto cerca de 18 dias após infartar de fato. “Eu comecei a sentir um desconforto no lado esquerdo, uma dorzinha, pensei ‘é gases’. Fiquei muito sonolento nesse período, dormia entre um atendimento e outro, mas imaginava que estivesse com nada”, explica. Foi somente quando começou a sentir falta de ar que marcou tomografia em hospital que o filho trabalha, também como enfermeiro, que descobriu a condição.
“Fui para o CTI [Centro de Terapia Intensiva]. Estava obstruído 90%. Fiquei internado para cirurgia e, dois dias depois, infartei de novo dentro do hospital. Aí me socorreram e iniciei o tratamento. Em 2020 continuei tratando na Santa Casa e hoje vivo sem restrições”, conta.
No caso de João, foi infectado três vezes pelo coronavírus. “O primeiro foi no início da pandemia, em 2020. Perdemos uma colega aqui do salão, a Patrícia. O segundo no começo do ano e agora de novo. Mas, estou bem de saúde, tomei as vacinas, que são super importantes, e estou aqui”, comemora.
Para vida
Após todos esses anos, garante que a profissão será para vida. João conta que leva a vida com leveza e muita fé na espiritualidade. “Estou aqui hoje, mas tenho sonhos de viajar de novo. Assim, o cabeleireiro não é muito normal, sabe? A gente não vive sentado com os pés no chão. Nós somos artistas, tanto é que o salão aqui é Atteliê do cabelo. É gratificante ver a transformação de uma cliente, de um cliente”, explica.
Pedro afirma que ama o que faz, especialmente a estabilidade que o salão dá. “Hoje em dia eu não fico mais o dia todo no salão, atendo somente com hora marcada. Já estou bem mais tranquilo. Enfermagem, mais não”, brinca.
Serviço - O Ateliê do Cabelo está localizado na Rua José Antônio, número 563, 1º andar. Agende seu horário pelo WhatsApp (67) 99266-1899.
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