Com venda consultiva e dedicação, pequenos empreendedores ganham clientes fiéis na internet

Quando liga o computador por volta das 6h da manhã, Wânia Raquel Theodorowicz sabe que os clientes aguardam respostas personalizadas para seus planos. Ela se debruça sobre cada questionamento usando o máximo de seus conhecimentos na área em que atua, o turismo. Tamanho comprometimento e dedicação trazem os clientes satisfeitos de volta para fazer novas viagens.

"Atuo como agente de viagens há 13 anos. Tenho clientes do Brasil inteiro que sequer conheço pessoalmente, mas eles sempre voltam a buscar meu atendimento. Faço pacotes de viagens personalizados, procurando atender aquilo que o cliente deseja na viagem. Eu lido com pessoas, com sonhos. Se der algo errado na viagem, vira um pesadelo", diz.

Wânia é dessas pequenas empreendedoras que enfrentam concorrência gigante, mas que não se intimida diante dela. Isso porque descobriu o caminho para fazer o “volte sempre” ser real em seu negócio. Ela se vale de seu potencial de consultora e prestatividade.

O cliente on-line está cada vez mais exigente. Quer retorno rápido aos questionamentos e informações com profundidade de quem está ofertando o produto ou serviço. É aí que Wânia se garante.

Além dela, a reportagem do Diário Digital encontrou outros comerciantes da internet que comprovam que a qualidade no atendimento (mais até do que o preço) pode ser o diferencial para fidelizar a clientela em meio a tantas ofertas on-line.

Nos próximos parágrafos serão apresentados, o produtor de mel que deu uma guinada no negócio vendendo equipamentos para outros apicultores; a técnica em segurança do trabalho que faz sucesso comercializando equipamentos de proteção (EPIs), e o construtor que encontrou na sua bebida favorita, o tereré, o caminho para um negócio bem ao seu gosto.

Mas, voltando a Wânia que ainda tem muito a dizer, vale observar que a agente está sempre apostos e fiscaliza tudo, a viagem, a hospedagem, transportes e outros detalhes. "Já administrei muitos problemas que surgiram inesperadamente durante a viagem. Uma vez, o veículo que levaria a família para os passeios falhou. O cliente me acionou e, à distância mesmo, contatei outro e o passeio seguiu normalmente."

Wânia estava aliviada, até que horas mais tarde, o cliente pediu os dados da agente. Ela estranhou, mas repassou as informações.  "Somente depois me dei conta, que ele tinha depositado um valor em minha conta bancária como forma de agradecimento. É ótimo quando você consegue fazer bem o seu trabalho", afirma.

Todo esse atendimento personalizado, Wânia presta de um pequeno escritório montado na casa dela, no Jardim Aero Rancho, em Campo Grande (MS), onde trabalha sozinha. A estrutura da agência ‘Conhecer Bonito Viagens’ é enxuta, mas suficiente para atender quem queira fazer a viagem dos sonhos no Brasil ou fora dele.

Wania ganha a maioria de seus clientes por meio das redes sociais. Boa parte deles é das Minas Gerais, São Paulo e Paraná, público que gosta principalmente de visitar a região Nordeste.

A empreendedora é presente no Instagram e Facebook, onde faz postagens de imagens dos belos destinos a serem visitados, divulga pacotes promocionais e até testemunhos de clientes satisfeitos. "Também mantenho um site, o que faz o cliente se sentir mais seguro ", revela.

A pequena empresária começou a atuar na área trabalhando como freelancer para agências de turismo em Bonito -- daí o nome da sua agência. Porém, nunca se acomodou nos conhecimentos adquiridos na prática. Fez vários cursos on-line e segue se capacitando. Ela também não se permite bancar a aventureira na internet.

Por isso, buscou orientações no Sebrae-MS para apresentar seus serviços nas redes corretamente. "Também já participei das rodadas do 'Mulheres de Negócios'.  A gente troca experiências. Aquilo que deu certo, a gente compartilha. Uma ajuda a outra", comenta.

Prosperidade com sabor de mel -  Matheus Comiram Dallasta cresceu em meio à produção de mel. O pai é apicultor e a família mantém pequenos apiários nos municípios de Terenos, Bandeirantes, Miranda e São Gabriel d´Oeste.

O rapaz deixou o campo e assumiu a responsabilidade pela venda do produto na cidade. A marca Apiários Pôr do Sol já é conhecida no mercado. Mesmo assim, manter a freguesia cativa não é tarefa fácil ante à concorrência e custos de distribuição, por exemplo.

Durante a pandemia, Matheus precisou lutar para convencer a família a não fechar o ponto de vendas no Jardim São Lourenço, na Capital. Conseguiu o voto de confiança, mas agora tinha que viabilizar o negócio.

Diante do desafio, ele se voltou para internet. A empresa já mantinha vendas on-line de mel desde 2015, porém, era urgente incrementá-las. E, ali mesmo, ouvindo as vozes que chegavam on-line, Matheus descobriu um novo filão.

Agora mais do que mel, ele vende equipamentos para apicultura. "Percebi que estava havendo um "boom". Muitas pessoas começaram a mexer com abelhas. Então, procuravam equipamentos. Aproveitei a onda e passei a comercializar roupas, luvas e outras equipamentos para apicultores", relembra.

O resultado desse "boom" foi outro “boom” no negócio de Matheus. A venda dos equipamentos se tornou a principal renda vinda da internet e ele descobriu o gosto do pioneirismo na área de trabalho na qual nasceu.

"Hoje, além dos equipamentos básicos, eu vendo inovações na área da apicultura. Por exemplo, sou o primeiro do Brasil a comercializar as lâminas plásticas alveoladas para a produção de mel. Em nosso País, os produtores sempre usaram as placas de cera. Mas, explico aos clientes que as plásticas são mais duráveis e não reduzem a produtividade. As abelhas não rejeitam", garante.

Também estão à disposição dos compradores pela internet alimentação para abelhas, alimentadores, macacão, luvas, filtros, objetos para manejo apícola, bisnagas para envasar o mel e outros.

Ser pioneiro e requisitado nas redes exige disposição. Todos os dias, Matheus vasculha o mercado internacional, nacional e regional em busca de produtos que possam interessar aos apicultores.

A nova fase de sucesso vem do esforço, mas principalmente do conhecimento que Matheus tem na área. "Grande parte das vendas são consultivas. Os clientes entram no site ou nas redes sociais e aí nos acionam pelo WhatsApp. Querem conversar. Não nos procuram pelos preços, mas sim pela consultoria. Eles precisam ser orientados sobre o produto mais adequado à necessidade deles. Passo boa parte do tempo nessas conversas", relata.

Dessa forma, o 'Matheus do Apiáros Por do Sol' já é uma referência na área da apicultura. Ele mantém aberta a única loja segmentada para apicultores na Capital. Tem seis funcionários e pretende contratar mais, pois admite que está sobrecarregado com o atendimento.

Ao mesmo tempo em que abre as portas da empresa para o novo, Matheus preserva a origem do negócio familiar com a mesma dedicação.

O empreendedor continua envasando o mel produzido pela família e distribuindo no mercado local. Além das bisnagas, ele produz saches e ainda comercializa os outros produtos vindos dos apiários como a cera e o pólen.

A prosperidade de Matheus garantiu a Gabriella de Oliveira, 19 anos, seu primeiro emprego. "Eu faço as funções de secretária, organizo as coisas no computador, auxilio no atendimento e também ajudo o pessoal lá dentro a separar as mercadorias", detalha. "Estou muito feliz com a oportunidade. Aprendo todos os dias."

EPI´s à mão - Assim como Matheus Comiram, Narcilene Soares Lopes é outra empreendedora de Campo Grande que descobriu uma nova oportunidade em sua antiga área de atuação e precisou apostar na internet. Ela é uma exigente técnica em segurança do trabalho que ganhava a vida percorrendo canteiros de obras para garantir a segurança física e mental dos operários.

"Nas obras, eu era detalhista e estava sempre cobrando o fornecimento dos equipamentos de proteção individual, os EPIs, adequados e o uso correto. Essa é uma área na qual não se pode improvisar, tem que ser tudo nas normas, pois, do contrário podem acontecer acidentes", alerta Narcilene.

Foi percorrendo os canteiros de obras que ele percebeu as dificuldades das empreiteiras em comprar os equipamentos e levar aos funcionários. Assim, surgiu a ideia dela própria ocupar esta lacuna, ou seja, comprar os EPIs e revender para as empresas, com pronta entrega.

Era a oportunidade de abrir o próprio negócio, um desejo que já vinha acalentando, e ainda continuar o que ela considera ser sua missão de vida, atuar para que os operários da construção civil trabalhem em segurança.

Narcilene estava cheia de ânimo, mas a chegada da pandemia do novo coronavírus atrasou seu planejamento. Ela própria pegou Covid e ficou quase um mês em isolamento, período em que refletiu sobre como deveria ser este recomeço.

No próprio bairro onde sempre morou, o Coronel Antonino, Narcilene encontrou um ponto comercial que serviria de base para sua empresa, a 'Traz Aqui EPIs'. Neste local, além da loja na frente, ela também encontrou espaço nos fundos para montar as salas onde ministra cursos de segurança do trabalho.

Apesar da pandemia ainda durar, Narcilene abriu o negócio e descobriu nas vendas on-line uma grande aliada. Ela é frequentemente contactada pelo WhatsApp e redes sociais por empreiteiros e pequenos construtores em busca de equipamentos. Na maioria dos dias, a empreendedora sequer abre as portas da loja física e mesmo assim o serviço não para.

Os clientes pedem calçados, capacetes, protetores faciais, óculos, luvas, cintos ergonômicos, além de outros itens como fitas adesivas, martelos, alicates.

Narcilene e duas parceiras da empresa separam tudo e depois levam ao comprador. A entrega é feita na kombi Mercedita, veículo com o qual ela percorre os canteiros de obras da Capital.

"O meu diferencial é ter atuado na área, entender sobre os produtos que vendo. Assim, as pessoas me procuram porque querem comprar os equipamentos realmente adequados para cada operário na obra. É uma venda consultiva. Por vezes, a pessoa procura comprar nas grandes lojas, seja pela internet ou fisicamente, mas não obtêm o mesmo atendimento", enaltece.

Narcilene agora planeja turbinar suas redes sociais e colocar o catálogo no WhatsApp que já está sendo preparado. Também está nos planos equipar a Mercedita e torna-la um veículo apropriado para cursos itinerantes, outra ambição da decidida Narcilene.

Tereré, um bom negócio on-line - Grande tradição em Campo Grande, o tereré é matéria prima de bons negócios, inclusive, na internet. O empreendedor Antônio dos Anjos Branco Filho acreditou nisso. Ele atuava no ramo da construção civil quando decidiu investir em algo de seu gosto pessoal, a bebida gelada que ele toma todos os dias.

Assim, tornou-se sócio da Tereré Shop, onde trabalha com prazer. A empresa tem uma loja física no Centro da Capital. Porém, mesmo num endereço privilegiado o comércio presencial foi atingido na fase da pandemia, pois a circulação de pessoas diminuiu.

A empresa que já estava na internet passou a potencializar sua presença nas redes. A Tereré Shop aperfeiçoou seu site, aumentou as postagens no Facebook, Instagram, e buscou também outros endereços de venda como Shopee e Mercado Livre.

“Investimos em propagandas nas redes. Interessante como o Instagram dá um retorno muito rápido. Por vezes, a gente posta e dentro de poucos minutos, o cliente entra na loja perguntando pelo produto que viu no post”, detalha.

Além de estar de olho nas plataformas que podem trazer clientes, Antônio dos Anjos também atrai consumidores com seu trabalho consultivo pela internet. “Eu diria que as pessoas nos acessam em busca de variedade e atendimento especializado e personalizado”, conta.

Atualmente, caminho mais rotineiro da clientela on-line é acessar o site ou a rede social e chamá-lo no WhatsApp. “A resposta tem que ser rápida. Pedem indicações de marcas de ervas, modelos de bombas e você tem que explicar tudo”, comenta.

Além disso, Antônio dos Anjos é sempre disposto a negociar com o cliente. “Negocio o valor do frete, formas de pagamento, dou cupom de descontos e outros”, revela.

Grande parte da clientela da Tereré Shop é da região Sudeste. É um público que gosta de novidades como ervas com sabores diferenciados, por exemplo.

O perfil exigente dos clientes faz com que o empreendedor esteja sempre em movimento. Ele sabe que precisa ter novidades para divulgar.

A Tereré Shop tem erva de marca própria. O produto é original do Paraná e Antônio dos Anjos vigia para que ela esteja sempre nova. "O aroma fresco tem conquistado os clientes", afirma. Também estão à disposição outras 25 marcas de ervas que ele compra em várias regiões do País (principalmente a Sul) e até fora dele.

Ali tem de tudo para apreciadores da bebida de todas as faixas de renda. Além de ervas e bombas, estão à disposição garrafas, artesanatos, copos personalizados e outros produtos. Afinal, seu negócio é o shopping do tereré e precisa fazer jus ao nome.

Uma peça requintada é a bomba de ouro, que sai por R$ 130,00, para o público mais sofisticado. “Mas, temos também as bombas plásticas muito mais em conta e em várias cores. Podemos atender qualquer amante do tereré. Tem para todos mesmo”, assegura.

Empresa ‘constrói’ lojas on-line – A boa impressão que a Tereré Shop causa na internet está diretamente ligada ao trabalho de outra empresa que cria lojas on-line e fez o site para Antônio dos Anjos. A Novaoito se dedica a criar sites de venda voltados para empresas de qualquer tamanho, inclusive as pequenas.

“Mais do que a ferramenta para vender os produtos on-line oferecemos as consultorias para nossos clientes. Eles querem estar seguros da plataforma”, relata Renan Oliviera Telles, um dos proprietários da Novaoito.

Estabelecida em Campo Grande, a empresa tem mais de 700 clientes em vários estados brasileiros. Outro produto da empresa são as plataformas para venda de ingressos. “Atualmente, 80% dos eventos realizados na Capital usam nosso software”, revela.

Renan e a equipe mantêm esse software em constante aperfeiçoamento, sendo atualmente muito apropriado para telefones celulares, o que, em parte explica a grande procura.

Além disso, mais do que expor os produtos para venda, o sistema organiza as entradas e saídas das mercadorias e ainda permite imprimir etiquetas, notas fiscais, colocar o código de rastreio e outras funções. O software acompanha tudo, desde o cadastro do produto até sua chegada ao comprador.

“São muitos recursos, mas vale mencionar que o cliente adquire aquilo que ele necessita. Temos planos a partir de R$ 99,00. Estamos prontos para ajudar o pequeno a crescer na internet”, assegura. Renan explica que as redes sociais não são concorrentes do site de venda.

“Muito pelo contrário. As duas coisas não se atrapalham. Por vezes, o comerciante começa vendendo pelo Instagram e WhatsApp, por exemplo. Daqui a pouco ele amplia a clientela e não consegue mais trabalhar sem uma plataforma profissional, pois precisa se organizar. Então, ele vem até nós. Eu torço para que os pequenos tenham sucesso nas redes sociais, assim logo virão novos clientes”, valoriza.

Um exemplo de onde a rede social pode levar um empreendedor é a BF///MS. A empresa que fabrica vestuários e acessórios masculinos nasceu quando dois jovens decidiram criar um blog para postar imagens de caminhonetes diferenciadas.

A página virou um grande fórum com muitos fãs e seguidores, o que resultou numa grife de estilo country. O sucesso foi tão inesperado quanto gigante. Cabe desvendar também o nome da empresa que valoriza sua regionalidade:

BF - Big Foot (Pé grande, caminhonetes altas)/ MS - Estado de origem da empresa.

Hoje, os sócios da BF///MS estão entre os clientes bem-sucedidos da Novaoito e foram até convidados a gravarem um vídeo sobre a plataforma e-commerce na qual resumem sua impressionante história de empreendedorismo. Veja o vídeo abaixo:

Sebrae/MS – Embora sejam muitas as histórias de quem obteve êxito empreendendo na internet, ela não é uma arena para aventureiros, sendo aconselhável se planejar antes de se lançar na rede. O analista técnico do Sebrae-MS Carlos Henrique de Oliveira explica que saber se apresentar na internet é fundamental para atrair a clientela.

“Por meio de sua divulgação, o cliente precisa conseguir perceber seus valores, sua proposta. A imagem da sua marca é a porta de entrada. É preciso trabalhar a identidade visual, por vezes, é melhor acionar um profissional para defini-la”, ensina.

Saber se colocar é muito importante, mesmo porque a concorrência na rede é cada vez maior. Dados do próprio Sebrae apontam que em MS, 67% dos donos de pequenos negócios vendem utilizando redes sociais, aplicativos ou internet (Whatsapp, Facebook, Instagram, etc.).

Ainda de acordo com Carlos Henrique, a identidade da empresa precisa ser construída com seriedade tendo como base aquilo que o empreendedor pretende fazer e oferecer ao público.

“Vale mencionar também que o planejamento é muito importante. Você precisa definir, o que vai postar, quando e como. É necessário também entender as ferramentas da internet”, cita.

Ficar de olho nas métricas também é fundamental. Do contrário, corre-se o risco de fazer investimentos que não darão retorno.

Fundamental também, conforme Carlos Henrique, é estar atendo à importância do celular atualmente. “Se o empreendedor abrir um site, ele precisa observar a navegabilidade que tem que ser boa no celular.”

Por fim, ele sugere que os pequenos empresários procurem o Sebrae-MS. O órgão tem, inclusive, consultorias gratuitas sobre o meio digital.

O atendimento pode ser acessado por meio do telefone 0800570 0800, pelo site do Sebrae MS ou procurando o serviço em sua sede física, na Avenida Mato Grosso, 1.661, no Centro de Campo Grande.

Confira mais imagens das visitas do Diário Digital às empresas que estão ganhando espaço na internet com trabalho personalizado:

Apiários Por do Sol:

(Fotos: Luiz Alberto)

Agência Conhecer Bonito:

(Fotos: Luiz Alberto)

Traz Aqui EPI´s:

(Fotos: Luiz Alberto)

Tereré Shop

(Fotos: Luiz Alberto)

Novaoito

(Fotos: Luiz Alberto)

Equipe Diário Digital:

Reportagem e edição: Valdelice Bonifácio

Fotografia: Luiz Alberto

Apoio logístico: Everton Cristaldo