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Veruska Donato

Veruska Donato é jornalista e apresentadora do Balanço da Manhã. No Diário Digital, ela assina a coluna Sala de Trabalho.

Senta que o papo é assédio no trabalho, por Veruska Donato

Em pleno 2022, não cabem mais mão no ombro, beijinho na bochecha, carinho nas mãos ou comentários sobre a aparência dentro das empresas

Terça-feira, 09 Agosto de 2022 - 16:00


Senta que o papo é assédio no trabalho, por Veruska Donato
(Foto: Arquivo/DD)

As denúncias contra o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad acendem um alerta. Não cabe a mim aqui dizer se são verdadeiras, ou não. A polícia já investiga os casos, mas precisamos falar sobre assédio sexual no trabalho. E falar sério. Espalhar nas rodas de amigos, em casa, e principalmente no ambiente do trabalho. Passou da hora de tratar assédio sexual como comportamento grave. Em pleno 2022, não cabem mais mão no ombro, beijinho na bochecha, carinho nas mãos ou comentários sobre a aparência dentro das empresas.  

Uma pesquisa recente mostrou que o assédio sexual é mais comum nos altos escalões, e mais frequente quando se trata de mulheres, mas os homens também são vítimas.  Conheço um sujeito que todos os dias recebia cantadas de funcionárias com cargos parecidos ao dele, não tinham tanto poder, mas ele se sentia pressionado porque elas poderiam fazer um complô para prejudicá-lo. Já imaginou trabalhar num clima assim por anos? 

Uma vez uma amiga me disse que evitava os convites do chefe sempre respondendo positivamente às cantadas dele. Se ele chamava pra jantar ela dizia “só se for agora”, se ele comentava que ela estava bonita, ela devolvia o elogio “você também”, então eu perguntei : “e se ele um dia disser ‘vamos’, o que você vai responder?” Ela disse que ainda não tinha pensado nisso, mas que com certeza inventaria que estava com uma doença terminal. Uma outra colega que ouvia a conversa contou que costumava agir como os personagens do filme Matrix, desviando das cantadas como eles desviavam dos tiros. 

As empresas precisam evitar o assédio sexual. E como fazer isso? Com campanhas de prevenção. O básico ajuda. Orientar as lideranças para evitar palavras e comportamentos que parecem inocentes, mas não são. Um simples “gostei do seu perfume”, dá a entender que a liderança está querendo forçar uma situação e agindo com galanteio. Quem ouve pode se ofender ou se sentir invadida ou invadida intimamente, forçado a demonstrar um comportamento que muitas vezes não quer.  

Outra preocupação que as empresas devem ter é a de preservar a funcionária ou o funcionário que decidir denunciar o abusador ou abusadora. É preciso criar uma cultura de preservação, a pessoa precisa ter a garantia do emprego, de que ao denunciar não será perseguido pelo chefe e de que não irá para o olho da rua.  

Criar canais de denúncia pelo telefone, ou email também é importante. A empresa precisa dar demonstrações de que leva o serviço a sério e tem que investigar, e para isso vai ter que prestar contas das políticas que está criando. É a tolerância zero contra o assédio sexual no trabalho.

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