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Manoel Afonso

Manoel Afonso é um dos principais colunistas políticos de Mato Grosso do Sul. Também é advogado, mas há mais de 20 anos dedica-se exclusivamente ao jornalismo.

Desabafo dos brasileiros: “É só no nosso”, por Manoel Afonso

Há mil maneiras de usar o dinheiro ‘por fora’ que não entra na prestação de contas

Sábado, 20 Julho de 2024 - 18:32


Desabafo dos brasileiros: “É só no nosso”, por Manoel Afonso
(Foto: Arquivo)

GOL DE PLACA: Repercute a aprovação da emenda do deputado Rodolfo Nogueira (PL) incluindo carnes, peixes, queijos e sal na lista dos alimentos com alíquota zero de IBS e CBS. Antes, a redução de alíquotas era de 60%. Rodolfo ganha projeção nacional,  referência na defesa de alimentos mais baratos na mesa. Virou estrela e aumentou seu cacife eleitoral.

SEM MISÉRIA:  R$ 4,9 bilhões para os 29 partidos nestas eleições. 18% ao PL, 13% ao PT e o União Brasil com 11% terão as maiores fatias. Para completar, a Câmara aprovou a PEC perdoando R$ 23 bilhões em multas e dívidas partidárias por desvios e erros nas prestações de contas de recursos dos fundos Partidário e Eleitoral nos últimos 5 anos.

HIPOCRISIA:  Apesar dessa grana e das ameaças do TSE (leão banguela) contra os abusos nos gastos, na pratica a gente sabe como funciona. Há mil maneiras de usar o dinheiro ‘por fora’ que não entra na prestação de contas. É como o acordo entre as duas partes num negócio para sonegar o Imposto de Renda. Um não declara que pagou e o outro omite que recebeu. O Brasil não é a Dinamarca.

QUESTÕES: Difícil definir o valor do voto no mercado eleitoral. É certo, quanto menor o colégio eleitoral e havendo apenas dois candidatos a prefeito, a tendência é que o preço do voto inflacione a medida em que a data do pleito se aproxima. É nesta hora que a necessidade fala mais alto e o escrúpulo (mas existe?) vai para o beleléu.

FAVORES:  Por acaso eles têm preço em termos de prestação de contas na lei? Claro que não.  Aquele frete por ‘cortesia’, o aviamento da receita, o dinheiro ‘emprestado’ a perder de vista, o tratamento dentário, a solidariedade financeira no parto, nas despesas funerárias, matrimoniais e tantas outras ocasiões do dia a dia. É assim que funciona.

OLHOS BRILHAM:  No saguão da Assembleia Legislativa circulam futuros candidatos do  interior manifestamente ansiosos com a chance de vencerem as eleições. E não poderia ser diferente. Questionados, seus olhos brilham, num misto de idealismo e vaidade. Mas todos tem algo em comum: o temor pela necessidade de gastar além do bolso.

IGUAIS: Na maioria das cidades de até 20 mil eleitores há duas facções políticas: do prefeito e da oposição. A divisão da comunidade é visível o ano inteiro – passa pela escolha dos padrinhos de casamento dos filhos, do barbeiro, dentista, médico, advogado, pedreiro, mecânico, supermercado, farmácia e do posto de gasolina.

PESQUISAS: É que não faltam. Desta vez é sobre a influência da polarização nacional no pleito municipal. Com pouca variação em várias capitais, a tendência do eleitorado é  comparar o preparo dos postulantes sem levar em conta a ideologia deles. A decepção com os políticos pesou com razão: o cidadão desabafa reclamando: “É só no nosso. ”

BOLA DE CRISTAL: Circulam na capital hipóteses interessantes sobre a composição de forças políticas no segundo turno.  Uma delas seria a possibilidade do candidato Beto Pereira (PSDB) disputar o segundo turno contra a candidata classificada em segundo lugar apoiada por outras duas concorrentes. Como se diz: tudo é possível em eleições.

NOVIDADE  É o ingresso do empresário Sergio Murilo no PDT oficializando o apoio do partido à candidata Rose Modesto (União Brasil). Com 42 deputados federais o PDT irá aumentar o tempo de Rose no horário eleitoral. Mas mesmo assim ela não atingirá nem um terço do tempo destinado ao candidato ‘tucano’ Beto Pereira.

SALADA MISTA: É tido como material inflamável o chamado ‘entendimento’ entre o PSDB e PL para essas eleições e amarrações visando o pleito de 2026. Questiona-se nos ‘botecos da vida’ o relacionamento futuro da senadora Tereza Cristina (PP) e o ex-presidente Bolsonaro, o ex-governador Azambuja e o governador Riedel.  Sei lá…

ACORDOS:  Segundo as palavras de Tancredo Neves e de outros conterrâneos seus,  eles existem para não serem cumpridos. Como nossa pratica política é turbulenta, não se pode descartar absolutamente nada em termos de acertos. Aliás, quem poderia imaginar  o ex-tucano Geraldo Alckmin aceitar ser parceiro de Lula após tantas críticas ao petista?

ÉTICA: A postura de ministros do STF tem gerado críticas. O evento que o ministro Gilmar Mendes promoveu em Lisboa prestigiado pelos irmãos Batista (JBF), inspirou o professor de Direito Constitucional da USP Conrado H. Mendes, em artigo na Folha de São Paulo sobre as regras da ética do STF. Aliás, o silêncio da OAB sobre o caso seria uma vertente da cumplicidade.

ARTIGO DO CÓDIGO: “Ministro não deve aceitar doações, presentes e mimos de atores privados”; “viagens, traslados, hospedagens, refeições e férias para por terceiros se enquadram no conceito de “doações”; ministro não deve frequentar espaços e grupos que comprometam a institucionalidade de sua função”. (Inserido no artigo)

REPRISE: Vem aí a guerra da inelegibilidade de candidatos. Até 15 de agosto o Tribunal de Contas entregará ao TRE a lista de políticos com contas rejeitadas por irregularidade insanável. O Tribunal decidirá e da sentença cabe recurso ao TSE. Situação que pode atrapalhar o impugnado ou beneficiá-lo, elevando-o a condição de vítima.

LEMBRETE: As convenções partidárias ocorrem de 20 de julho a 5 de agosto. Mas o partidos e federações tem até 15 de agosto para pedir o registro das candidaturas junto a Justiça Eleitoral. Se as convenções são o ponto de partida para escolha dos candidatos, os registros representam a oficialização dos nomes apresentados.

MALUQUICE: O calendário eleitoral fixa para 16 de setembro o prazo final para julgamento de todos pedidos de registro, inclusive de impugnações. Como sempre, com as eleições distando apenas 20 dias do julgamento final, fica no ar um clima de tensão e expectativa entre os candidatos e políticos envolvidos. Um calendário maluco.

‘ILUMINADO’:  Ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira (PSD) entrou para a política em 2006 com capital de R$ 1.036 milhão e hoje tem empresas valendo R$ 79 milhões (30 vezes mais).Mas Lula, o paladino da moral, vetou a divulgação de dados e informações do ministro pelos próximos 100 anos. Cadê a transparência prometida?

EXPECTATIVA: Nos meios de comunicações há um clima de expectativa quanto as campanhas publicitárias nesta disputa na capital. A dúvida: nossos marqueteiros serão prestigiados ou virão aquelas figuras de salto alto que depois vão embora derrotados, mas com os bolsos cheios sem ao menos conhecer o Mercadão.  Quero só ver!

A PROPÓSITO: Com 3 futuras candidatas na capital, vale reprisar aqui o texto da campanha da deputada estadual Maria Victória (PP) a cargo do marqueteiro Pablo Nobel: “Sou pré-candidata a primeira prefeita da história de Curitiba. Quero cuidar das mães, das famílias, de todos. Nossa cidade é boa, mas vai ser melhor quando for boa para todo mundo! (grifo nosso)

 

CONCLUSÃO SOMBRIA:

“Quem queria ver sangue na facada de Bolsonaro, agora não se contenta com o pouco do raspão da orelha de Trump.”  (Mariliz Pereira Jorge)

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